Um dos desafios mais arrojados e excitantes que pode ser experimentado durante um safari pela savana africana, é deixarmo-nos aproximar das grandes manadas de elefantes com que nos cruzamos. Quando se dá o encontro, desligamos o carro e ficamos em silêncio a observar aquele espetáculo extraordinário, com as fêmeas majestosas e as suas crias, que não param de andar, em caminhadas intermináveis, e passam ali mesmo, a escassos metros. Normalmente os elefantes aceitam a nossa presença com naturalidade mas às vezes podem surgir algumas reações menos cordiais . . . como nos iríamos aperceber mais tarde.
Éramos quatro e estávamos há dois dias no Kruger Park, na África do Sul, onde percorremos todos os trilhos na nossa própria viatura, sem qualquer apoio dos seguranças do parque, os chamados Rangers, mas também sem quaisquer limitações de percursos ou locais de paragem. Andámos assim de uma forma mais livre, sobretudo conhecendo os caminhos, e um dos nossos parceiros de viagem conhecia bem o parque. Há uma regra fundamental que é nunca sair do carro, é uma imposição das autoridades e é algo que acaba por nos dar uma certa sensação de segurança, mas que pode ser apenas aparente, um carro não é assim uma proteção tão eficiente, sobretudo quando pensamos nos animais mais corpulentos.
Nestes dias em que explorámos o Kruger Park tivemos a sorte de encontrar todo o tipo de animais, uns mais ao perto e outros só de longe, dos mais pequenos aos “big five”, todos se mostraram em vários grupos e em variados locais.
Ao fim de dois dias completos a percorrer as centenas de trilhos que atravessam o parque, ficamos com uma sensação de falsa normalidade, parece que a vida é mesmo assim . . . como quem se costuma cruzar com um cão ou com um gato, ali é normal encontramos impalas ou girafas, por todo o lado, mas também outros bichos maiores, como búfalos, rinocerontes ou elefantes. E há ainda os hipopótamos e os crocodilos, que aparecem junto aos lagos e rios, e também os leões e leopardos, mas esses bem mais reservados.
E, naturalmente, com o passar do tempo, começamos a descontrair e a ficar mais à vontade com os animais que, aliás, também costumam estar bastante familiarizados com a presença de veículos e, por isso, nos parecem mais ou menos afáveis.
E com essa descontração toda começámos a ir um pouco mais além, sobretudo tentando interagir com as manadas de elefantes, as grandes famílias em que as fêmeas conduzem as crias, porque os machos costumam vaguear sozinhos e são tão grandes que nos assustam logo à distância. E fomos repetindo várias vezes essa experiência . . . chegávamos bem perto da manada, muito lentamente, desligávamos o carro e deixávamo-nos ficar observando as suas reações e curtindo as nossas próprias emoções, com o coração a acelerar e a adrenalina a pulsar.
Mas as reações destes animais imponentes nem sempre são iguais . . . numa das paragens ficámos, como sempre, com o jeep desligado, enquanto a manada passava tranquilamente, fêmeas e crias em fila indiana num ritmo calmo.
Mas, de repente, uma fêmea fez questão de marcar o seu território mostrando-nos que ali era ela quem mandava. Desviou-se do curso da manada e dirigiu-se na nossa direção, parou a um par de metros do jeep, abriu as orelhas e fixou-nos alguns segundos, que nos pareceram longos minutos. Depois de achar que já tinha passado a mensagem, desviou o olhar e seguiu o seu caminho, deixando-nos numa tremedeira pelo grande susto que ela nos pregou.
Mas, de repente, uma fêmea fez questão de marcar o seu território mostrando-nos que ali era ela quem mandava. Desviou-se do curso da manada e dirigiu-se na nossa direção, parou a um par de metros do jeep, abriu as orelhas e fixou-nos alguns segundos, que nos pareceram longos minutos. Depois de achar que já tinha passado a mensagem, desviou o olhar e seguiu o seu caminho, deixando-nos numa tremedeira pelo grande susto que ela nos pregou.
E enquanto isto se passava mantive ainda o sangue frio para continuar a filmar sem parar, o que me permitiu a gravação deste vídeo que me ajuda a recordar a história daquele encontro assustador.
No final acabou tudo bem, foi uma experiência impressionante de proximidade com a vida selvagem e sobrou ainda esta história fantástica para contar e recordar.
Carlos Prestes