Numa visita ao arquipélago das Maldivas não podíamos deixar de aproveitar a oportunidade para explorar as águas transparentes e quentes do Oceano Índico e, por isso, resolvemos fazer uma semana completa com mergulhos diários por entre centenas de peixes coloridos, como se andássemos, literalmente, à procura de Nemo.
Depois de um hidroavião nos ter deixado numa das ilhas paradisíacas do arquipélago, deixámo-nos por lá ficar, nos habituais bungalows, que se escondem entre os coqueiros e o areal, aproveitando o namoro de uma lua-de-mel, nestas praias de águas quentes e transparentes e areias brancas de coral.
A praia é a essência destas ilhas. Até posso admitir que nem todos os visitantes sejam fãs de mergulho, que é algo muito específico e que obriga a alguma destreza e até coragem, mas uma pessoa que não goste de praia, tem de fazer um favor a si própria, e nunca ir às Maldivas. Digo isto, que parece quase uma evidência de La Palice, mas porque tenho ouvido relatos de pessoas que escolhem este destino, sobretudo em lua-de-mel, mas que depois referem que não gostam muito de praia . . . que a areia atrapalha e que o sol e a água são um tremendo incómodo. E há quem diga que nem saiu da piscina . . . meu Deus, que sacrilégio!!! Como é possível alguém preferir uma piscina em vez do mar azul-turquesa, com águas a 28ºC, e uma areia finíssima de um branco que até encandeia. Que praias magníficas estas . . . queria poder viver aqui uma eternidade.
Mas nós somos ambos fãs incondicionais de tudo aquilo que estas ilhas têm para oferecer e, por isso, viemos para o sítio certo e na altura certa. Adoramos estar na praia, na areia ou no mar, e ali estava aquela praia encantadora com águas mornas e cristalinas. Somos fãs de mergulho e, bem à nossa frente, tínhamos o fundo do mar mais belo e mais rico que alguma vez tínhamos visto. E é claro que adoramos namorar, e o namoro sob aquele sol e aquela lua que, para nós, era uma lua de mel, foi ainda mais encantador, por todo o ambiente de sonho que nos rodeava.
Muito para além das suas praias magníficas, o arquipélago das Maldivas é sobretudo conhecido como um dos destinos mais desejados entre a comunidade de mergulho. Com recifes coloridos, peixes pequenos de todas as formas e todas as cores, e peixes grandes, dos mais assustadores aos mais pacíficos, e tudo está ali bem perto e ao nosso alcance. Basta entrarmos naquele admirável mundo e durante os minutos (perto de uma hora) em que o oxigénio nos vai deixando respirar, sentimo-nos como se pertencêssemos àquele universo deslumbrante das profundezas do Índico.
Fizemos vários mergulhos, uns mais madrugadores e outros aos finais de tarde, mas o primeiro contacto que tivemos com este mar maravilhoso foi a explorar o próprio recife da ilha do nosso hotel, fazendo apenas snorkeling, isto é, nadando com máscara, respirador e barbatanas.
Tínhamos chegado nessa mesma manhã e apanhámos a embarcação nos iria deixar sobre o recife para 40 minutos de surpresas. No último momento, antes de deixarmos o barco, e convém dizer que éramos apenas nós dois e o rapazinho que manobrava o barco e que por lá ficou à nossa espera, e que nos fez uma breve explicação: Comecem por aqui, sobre o recife, que encontram corais de todas as cores, muitos peixes coloridos e moreias. Vão depois chegando até ao limite do recife onde o mar passa a ser mais fundo, e aí começam a aparecer alguns peixes maiores . . . sobretudo tartarugas e alguns tubarões!!! E esse final da frase ficou a ecoar na minha cabeça e já não consegui ouvir mais nada.
Mas como não somos de fugir, lá fomos, mar adentro. Começámos por explorar o recife e fomos avançando à medida que encontrávamos alguns cardumes, ainda muito à superfície, daqueles bem bonitos e coloridos. E por fim a profecia cumpriu-se, já próximo do limite da barreira de coral, onde se formam falésias de 30 ou mais metros de profundidade, as espécies maiores sobem até ao recife e ali estavam eles.
Primeiro uma tartaruga, que é uma fofura, face a outras expetativas mais gravosas. E enquanto perseguíamos a dita tartaruga, num instante em que o sol deve ter ficado encoberto por alguma nuvem escura, só para tornar o cenário ainda mais medonho - ou foi só impressão minha - tivemos a (des)agradável companhia do anunciado tubarão.
Era um Blacktip Reef Shark, uma das espécies de tubarões que por ali circulam e que se identificam pela ponta preta da barbatana. Segundo dizem, é dos mais inofensivos, embora este me parecesse bem encorpado e com cara de mau . . . há uma questão que é pertinente, num mar tão cheio de alimento, para que é que se iriam meter com um ser humano, tão grande e desajeitado? Mas essa é uma pergunta a que só cada tubarão poderá responder em cada situação, e eu prefiro não esperar pela resposta.
E foi assim, mal chegámos àquela praia e já tínhamos apanhado um tremendo susto e estávamos já com a adrenalina a mil. E como nestas situações raramente queremos fugir da experiência e da excitação, muito pelo contrário, voltámos a repetir outras incursões no mundo azul que se esconde sob o arquipélago, enfrentando de novo a exaltação do desconhecido, com novas surpresas e muitos outros tubarões.
Carlos Prestes
Maio de 2002
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