domingo, 14 de junho de 2009

Uma descoberta surpreendente - MET Museum (New York)

Depois de uma longa caminhada em torno do Central Park, chegámos ao Metropolitan Museum of Art, conhecido informalmente como “The MET”, um dos museus de arte mais visitados, não só na cidade de Nova Iorque, mas em todo o mundo... e a minha primeira impressão foi que tudo aquilo me parecia demasiado grandioso... diria mesmo, assustadoramente grandioso. E, quase por instinto, resolvemos dispensar toda aquela parafernália de arte clássica e seguimos diretamente para a ala dos impressionistas, ocupada por uma coleção riquíssima daquele movimento criado em França no século XIX.

Sempre fui fã incondicional dos impressionistas e tenho visto algumas das obras de referência em várias cidades europeias, nomeadamente em França, onde estão as galerias com a maior quantidade de peças deste movimento. Mas a coleção dos impressionistas do MET pareceu-me ser das mais completas, contendo, inquestionavelmente, algumas das pérolas dos principais artistas.

E o que fizemos foi percorrer as salas e corredores, sem destino definido, demorando-nos mais ou menos em função das obras que íamos encontrando e da forma como cada uma delas nos ia tocando. E  foram assim passando os grandes clássicos... Edgar Degas, Claude Monet ou Renoir, um dos meus favoritos. 

Até que chegámos a Van Gogh, com todo um espaço dedicado ao pintor holandês, não faltando um dos seus habituais auto-retratos. Vincent Van Gogh tem a maior parte da sua obra exposta no museu com o seu nome em Amesterdão, mas foi aqui que, pela primeira vez, um quadro do pintor holandês me haveria de emocionar. 

Muito para além de todas as obras que tinha vindo a encontrar, fui surpreendido, quase esmagado, pelo magnífico quadro a óleo “Campo de Trigo com Ciprestes” de Vincent Van Gogh.

Conhecia perfeitamente aquela imagem, aliás é uma das mais populares do autor, mas não estava à espera que aquele pequeno quadro, com apenas 73 cm x 93 cm, me pudesse tocar daquela forma. 

Fiquei sentado no meio do salão, imóvel e em silêncio, observando aquelas cores, aquele emaranhado de pinceladas espessas que quase me arrepiaram, aquela luz, que parecia irradiar das camadas subjacentes de tinta, já com 120 anos de idade.

Aquele quadro tinha um efeito quase físico, um magnetismo que me impressionou de uma forma brutal... e eu não estava preparado para toda aquela beleza.

Carlos Prestes
Junho de 2009

sábado, 13 de junho de 2009

The missing towers - New York

Durante uma viagem de barco que segue o curso do rio Hudson, do lado Ocidental da ilha de Manhattan, temos o privilégio de poder contemplar algumas das paisagens mais bonitas do skyline da cidade de Nova Iorque. 

Mas foi já depois da península onde se inscreve o downtown da cidade que nos aproximámos de um dos pontos altos desta viagem, quando passámos a poucos metros da Liberty Island e de um dos símbolos mais importantes do Estados Unidos, The Statue of Liberty

Uma estátua que é também uma referência firme ao valor da liberdade, como um dos direitos fundamentais que a América tem adotado como grande prioridade (só é pena que, mais recentemente, na era Trump, todos esses valores originais estejam a ser postos em causa). A estátua foi projetada e construída em França e oferecida aos Estados Unidos, depois de ter sido transportada de barco durante mais de um ano, separada em 350 peças com um peso total de 160 toneladas. Após a sua montagem na Liberty Island a Estátua da Liberdade abriu ao público em 1886 e é, até hoje, uma das grandes referências da nação norte americana. 

Mas depois de algum tempo em torno da Liberty Island invertemos a marcha e voltámos a encarar o conjunto de arranha-céus que definem o contorno do downtown da cidade. 

E foi nessa altura que, pela primeira vez, senti uma forte ausência da antiga referência da cidade de Nova Iorque, o World Trade Center com as suas Twin Towers, que desapareceram desta paisagem desde a minha última visita em 1996. 

Já tinha passado pelo Ground Zero, onde outrora se ergueram as torres, mas encontrei apenas um enorme estaleiro de obras, com gruas e contentores, e já com a estrutura da nova torre a emergir. Mas, estranhamente, naquele epicentro de toda a tragédia, não consegui sentir a importância nem a carga emotiva que aquele local encerra. Ou talvez nem quisesse mesmo sentir esse dramatismo que lhe está associado . . . talvez tivesse já feito o luto que aqueles acontecimentos justificavam. 

Mas daqui, contemplando um skyline amputado, foi-me impossível não recordar aqueles instantes em que a história do mundo mudou, ao mesmo tempo que a própria cidade se transformava para sempre. Não foi só o seu skyline, que agora observava, notando a ausência das torres, foram as cicatrizes profundas que se abriram naquele dia fatídico, e que jamais serão fechadas. 
Fecho os olhos e a memória faz com que as imagens perdurem, a silhueta das torres volta a materializar-se e o espírito da cidade parece manter-se intocável . . . mas de regresso ao presente, sinto agora esta ausência como uma ferida insuperável e devastadora. 

Carlos Prestes 
Junho de 2009

sexta-feira, 12 de junho de 2009

No império dos sentidos - Empire State Building (New York)

Programei chegar à 34th Street ao final da tarde, para entrar no Empire State Building e subir até ao topo ainda com luz solar, e assim poder assistir lá de cima ao pôr-do-sol e ao cair da noite. 

A filas são sempre o grande problema com que nos debatemos na visita a uma cidade, por isso, neste caso, é conveniente levar os ingressos já comprados para minimizar a demora. No entanto, e mesmo já sem ter de comprar os bilhetes, será ainda expectável que se perca algum tempo na fila para o elevador, e quando digo algum tempo, quero dizer mais de uma hora. Mas no final vai valer a pena. 

O Empire State Building é um dos grandes arranha-céus da cidade de Nova Iorque. Tem 102 andares e uma altura de 381m até ao terraço de cobertura, mas atinge os 443m com a torre da antena. Quando da sua inauguração, em 1931, o edifício era o mais alto do mundo e manteve esse estatuto durante quase 40 anos, até ser concluída a torre Norte do complexo do World Trade Center, no final de 1970. 

O edifício foi projetado em estilo art déco e foi classificado como uma das Sete Maravilhas do Mundo Moderno pela Sociedade Americana de Engenheiros Civis, algo que me impressiona, a mim, em particular, mas mais por deformação profissional. 

E ao longo dos quase 90 anos da sua história, este edifício foi vivendo alguns episódios que marcaram a cidade. Logo em 1933 a torre ficou associada a um filme que se tornou um clássico, o King Kong, onde um enorme gorila se pendurava no prédio para combater os aviões que o tentavam caçar. Mais tarde, em 1976, o edifício volta a aparecer no remake desse mesmo filme. 

Já fora da ficção, em 1945, um bombardeio B-25 perdeu as referências devido a um forte nevoeiro e colidiu com a fachada Norte da torre, entre os andares 78 e 80, causando 14 mortes. O incêndio provocado pela colisão foi controlado em apenas 40 min, o que garantiu que o edifício não se tivesse desmoronado. 


E depois de uma longa espera cheguei finalmente ao patamar de observação, primeiro ainda no meio de alguma confusão, mas, mais tarde, pude então chegar até à grade de proteção e consegui contemplar a paisagem. 

Estávamos no final de uma tarde quente de junho quando, finalmente, consegui olhar sobre a cidade, e experimentei uma sensação inesquecível. A imagem daquele conjunto de arranha-céus grandiosos foi arrepiante, uma espécie de vertigem que me engoliu e emocionou. 

Foi como se todo o mundo estivesse ali aos meus pés e já não era possível abandonar o alto daquele edifício, tinha de ficar por lá, tinha que me demorar o tempo necessário para me comover devidamente por toda aquela profusão de sentidos, que me baralhava enquanto me deixava tremendamente feliz. 

Estávamos ainda ao entardecer e resolvi permanecer por lá até assistir ao espetáculo. E o show começou, primeiro foram as cores alaranjadas do pôr-do-sol e, mais tarde, a noite começou a cair e a cidade foi escurecendo, enquanto surgiam, como que por feitiço, milhões de pontos luminosos que transformaram aquele momento numa noite mágica e inesquecível, e aquela cidade, na mais bela cidade jamais vista. 
Não é fácil reproduzir a sensação esmagadora que me tomou no alto daquela torre imperial que domina toda cidade e que me tocou em todos os meus sentidos, perfeitamente rendido aos encantos daquela cidade magnifica. 

Carlos Prestes 
Junho de 2009

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