Durante uma viagem de barco que segue o curso do rio Hudson, do lado Ocidental da ilha de Manhattan, temos o privilégio de poder contemplar algumas das paisagens mais bonitas do skyline da cidade de Nova Iorque.
Mas foi já depois da península onde se inscreve o downtown da cidade que nos aproximámos de um dos pontos altos desta viagem, quando passámos a poucos metros da Liberty Island e de um dos símbolos mais importantes do Estados Unidos, The Statue of Liberty.
Uma estátua que é também uma referência firme ao valor da liberdade, como um dos direitos fundamentais que a América tem adotado como grande prioridade (só é pena que, mais recentemente, na era Trump, todos esses valores originais estejam a ser postos em causa). A estátua foi projetada e construída em França e oferecida aos Estados Unidos, depois de ter sido transportada de barco durante mais de um ano, separada em 350 peças com um peso total de 160 toneladas. Após a sua montagem na Liberty Island a Estátua da Liberdade abriu ao público em 1886 e é, até hoje, uma das grandes referências da nação norte americana.
Mas depois de algum tempo em torno da Liberty Island invertemos a marcha e voltámos a encarar o conjunto de arranha-céus que definem o contorno do downtown da cidade.
E foi nessa altura que, pela primeira vez, senti uma forte ausência da antiga referência da cidade de Nova Iorque, o World Trade Center com as suas Twin Towers, que desapareceram desta paisagem desde a minha última visita em 1996.
Já tinha passado pelo Ground Zero, onde outrora se ergueram as torres, mas encontrei apenas um enorme estaleiro de obras, com gruas e contentores, e já com a estrutura da nova torre a emergir. Mas, estranhamente, naquele epicentro de toda a tragédia, não consegui sentir a importância nem a carga emotiva que aquele local encerra. Ou talvez nem quisesse mesmo sentir esse dramatismo que lhe está associado . . . talvez tivesse já feito o luto que aqueles acontecimentos justificavam.
Mas daqui, contemplando um skyline amputado, foi-me impossível não recordar aqueles instantes em que a história do mundo mudou, ao mesmo tempo que a própria cidade se transformava para sempre. Não foi só o seu skyline, que agora observava, notando a ausência das torres, foram as cicatrizes profundas que se abriram naquele dia fatídico, e que jamais serão fechadas.
Fecho os olhos e a memória faz com que as imagens perdurem, a silhueta das torres volta a materializar-se e o espírito da cidade parece manter-se intocável . . . mas de regresso ao presente, sinto agora esta ausência como uma ferida insuperável e devastadora.
Carlos Prestes
Junho de 2009
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