Quando imaginamos a Holanda como um país cheio de moinhos por toda a parte, estamos completamente enganados, não é nada assim.
Mas se procurarmos bem e fizermos a pesquisa necessária, acabamos mesmo por encontrar essa imagem do estereotipo holandês . . . uma zona rural recortada por longos canais e dezenas de moinhos junto às margens. Uma imagem sonhada que se tornou realidade quando encontrámos a aldeia de Kinderdijk, a escassos 20 km da cidade de Roterdão.
Kinderdijk é conhecida por ser o local com a maior concentração de moinhos em toda a Holanda, o que lhe valeu o título de Património Mundial da UNESCO, ao juntar um conjunto de 19 moinhos de vento, ainda em muito bom estado, apesar de serem do longínquo século XVIII.
Neste local não é permitido o acesso a automóveis ou motos, pelo que somos convidados a caminhar ao longo das margens do canal principal, ou a usar uma das bicicletas que lá se podem alugar. Podemos ainda passear nuns barcos que percorrem os canais fazendo sucessivas paragens. E podemos também visitar um museu sobre a história do local e um dos moinhos, que se encontra aberto a visitas turísticas.
Assim, escolhemos fazer uma caminhada demorada pelas margens do maior canal, apreciando a beleza daquele sítio e chegando perto de alguns dos moinhos mais próximos. E, mais tarde, entrámos ainda num dos barcos e deixámos que nos levasse num passeio pelos canais mais distantes, para conseguirmos uma panorâmica mais global.
A função destes moinhos de vento era bombar as águas dos canais para um reservatório com o objetivo de manter os níveis e evitar as cheias que sempre assolavam a Holanda. Estes moinhos funcionaram desde o século XVIII até 1927, quando foram substituídos por um conjunto de bombas. No entanto, na Segunda Guerra Mundial, com a dificuldade em conseguir combustível para alimentar essas bombas, os moinhos voltaram a funcionar, tendo então sido utilizados até aos anos 50.
Mas o local está cheio de histórias, sobretudo anteriores à instalação dos moinhos que aqui vemos, quando a população estava à mercê dos caprichos da natureza. E a última grande cheia registada neste local é também uma história de encantar, que está na origem do próprio nome da aldeia. Segundo a lenda, em 1421, durante a maior das cheias de que havia memória, um berço com uma criança foi mantido em equilíbrio por um gato, que a encaminhou sobre as águas até à encosta de um dique, tendo assim sido salva. E é essa a razão pela qual este local foi batizado como kinderdijk - kinder, que quer dizer criança e dijk, que significa dique.
As despedidas dos locais mais encantadores, como este, são sempre difíceis. Fica-nos, muitas vezes, uma sensação de perda. Por isso tentámos prolongar os últimos momentos, apreciando aquele ambiente bucólico de paisagens encantadas, um autêntico cartão-postal de uma Holanda imaginada.
Carlos Prestes
Julho de 2015
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