Toda a zona de dunas do deserto de Erg Chebbi, no Sul de Marrocos, é rodeada por extensas planícies, igualmente secas e desertas, mas pedregosas e não com areia. Atravessar esta zona dá-nos uma sensação extraordinária de amplitude e de infinito, e o Ahmed, o simpático marroquino de origem berbere que nos conduzia, percebendo o clima de excitação que nos tinha tomado, sugeriu-nos que nos deixássemos ficar por ali algum tempo, mas sozinhos, sem a proteção do jeep nem dele próprio... desafiando assim o deserto... e desafiando-nos também a nós próprios.
E a sensação foi brutal e arrepiante, começámos por ver o jeep a se afastar e um silêncio denso a se instalar, num espaço que parecia não ter fim, e onde os únicos seres vivos que a vista alcançava éramos nós próprios, despojados de todos e quaisquer pertences, e alguns dromedários que vagueavam por ali à procura de pasto... e quanto aos seres que a vista não alcançava, imagino cobras e escorpiões, era melhor nem pensar.
Sentimos uma pequena amostra, apenas um leve sabor, daquilo que será enfrentar um espaço amplo como este, mas sem qualquer rede de segurança que nos ampare a queda. Chegámos a experimentar um ligeiro desconforto de nos vermos ali sozinhos, mas, na realidade, arriscávamos muito pouco, estávamos à distância de uma caminhada, uma simples, embora longa, caminhada, feita com uma estranha sensação entre o vibrante e o angustiante.
E no final reencontrámos o nosso jeep e o nosso porto seguro, onde o Ahmed nos esperava curioso pela reação de cada um de nós perante este pequeno desafio. Vínhamos sorridentes fazendo adivinhar que o deserto não nos tinha intimidado, mas certamente que cada um de nós se terá questionado, nem que por breves e inconfessáveis momentos, sobre a inconsciência de aceitar o desafio de deixar que o carro se afastasse... e nós ali, perdidos naquele infinito, sem nada que nos pudesse devolver ao mundo real.
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