sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

No reino do leão (marinho) - Hout Bay (South Africa)

A baía de Hout Bay estava deslumbrante naquela manhã quente de dezembro. Era uma praia típica desta região do extremo sul de África, com um extenso areal quase deserto e um espelho de água magnífico, cortado apenas pelo rasto de duas ou três pequenas embarcações que seguiam sob o esforço das fortes remadas de alguns atletas madrugadores. Mas ninguém que se aventurasse a um mergulho, apesar do aspeto tão convidativo daquelas águas . . . e mais tarde iria perceber porquê. 

Mas deixei a praia para depois e segui diretamente até ao Hout Bay Harbour, o porto onde iria apanhar um barco que me levaria a visitar a Duiker Island, também conhecida localmente como Ilha das Focas. É um ilha pequena, com menos de 100m por 80m, mas é um verdadeiro santuário ecológico, pela sua fauna magnífica, com algumas espécies de aves exóticas e, sobretudo, com uma comunidade imensa de leões-marinhos. 

Saímos de barco pela da zona do porto, onde o mar é calminho mas, à saída da baía, começámos a ser fustigados pelas ondas que ali se formavam, o que me deixou com algum desconforto, sobretudo imaginando no que poderia acontecer se o tempo virasse repentinamente, porque, aquele era um daqueles dias em que está o chamado mar-chão e, ainda assim, o barco começava a baloiçar energicamente. 

E ao nos aproximarmos da ilha, o ambiente mudou radicalmente e o espetáculo começou . . . toda a plataforma do rochedo estava coberta por leões-marinhos, centenas deles, enquanto outros nadavam em rodopio junto ao barco, como que interagindo com os passageiros. E o cheiro tornou-se intenso, quase nauseabundo, a humidade do ar intensificou-se, o vento ficou mais forte e mais frio, mesmo num dia quente como aquele, e o mar começou a ficar agitado e com fortes correntes. Era a natureza que nos avisava, mostrava-nos que aquele não era o nosso território, ali mandava o leão, não o outro, o rei da selva, mas este magnífico leão dos mares. 
Foi uma experiência fugaz, estivemos menos de 15 minutos em torno da ilha, mas bastante marcante, e chegou mesmo a criar alguma ansiedade, principalmente pelos movimentos, bruscos e arriscados, com que barco fintava as ondas e fugia dos rochedos. Mas é muito interessante podermos observar tantos animais daqueles no seu habitat perfeitamente selvagem, como nunca os tinha visto anteriormente, só os conhecia de jardins zoológicos ou parques aquáticos, onde são todos previamente amestrados.

Regressados de novo a Hout Bay a paisagem da baía continuava maravilhosa vista a partir do mar, com as montanhas ao fundo, contornando a costa de areia branca e fina. À entrada do porto fomos recebidos por mais alguns leões-marinhos, tresmalhados do grupo e curiosos em relação ao mundo dos humanos, esperando-nos numa espécie de bailado de saltos e piruetas.

Saí do barco e segui até à praia para experimentar um mergulho naquele mar, ainda deserto de banhistas. E lá fui eu, estávamos a apenas 50km do Cabo e não queria deixar de entrar naquelas águas onde os grandes mares se juntam, e inscrever esse feito no meu curriculum. Mas, na verdade, mal consegui cumprir esse objetivo. . . era a água mais fria onde alguma vez tinha tentado nadar. Os ossos começaram a latejar e desisti da façanha de fazer ali umas boas braçadas. Resolvi regressar com a água ainda pelo meio das pernas, para evitar eventuais males maiores.

Era certamente essa a razão pela qual não se via ninguém a tomar banhos de mar . . . como é possível que a natureza tenha brindado estas terras com praias magníficas de areia fina e muito branca e águas de um azul vivo, e depois as tenha arrefecido até . . . sei lá, uns 12 graus, no máximo. E mesmo para aqueles que tentassem vestir um fato de surf para se protegerem do frio, existe ainda um outro probleminha, o risco do grande tubarão branco, que anda muito por estas bandas. 

Carlos Prestes 
Dezembro de 2014

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