Comecei a visita à cidade de Cape Town num dia escaldante de dezembro pela zona mais moderna, o Waterfront, junto ao antigo porto, reabilitado recentemente, no âmbito dos trabalhos feitos para o mundial de futebol de 2010, que a África do Sul organizou. Atualmente esta é a área com mais movimento de toda a cidade, parece um enorme parque de diversões, com um grande centro comercial que desemboca na marina, cheia de restaurantes e esplanadas, bares e outro tipo de atrações, como uma roda gigante, e com vários artistas de rua, que vão animando quem por ali passa. Na marina, ou porto de recreio, os barcos entram e saem constantemente, para pescarias, para visitas às ilhas, ou mesmo para um longo passeio que leva os passageiros mais corajosos a mergulhar numa gaiola para observar, bem de perto, o misterioso mundo do grande tubarão branco.
Fiquei encantado, o local é extraordinário, prendeu-me logo, mal tinha acabado de chegar. Mas, pelo ambiente e pela arquitetura, nem parecia que estava em África, embora, ao mesmo tempo, sentiam-se alguns traços daquela mística africana, de que tanto se fala. É algo que se capta no ar, talvez pelas pessoas com que nos vamos cruzando, talvez pela mistura das suas diferentes origens, africanas e europeias.
Os atuais sul africanos, resultam duma mistura das populações indígenas com os descendentes de europeus, mas mesmo esses, têm origens bem diferentes, uns são britânicos e outros são os chamados Bóeres. Os Bóeres descendem dos colonos calvinistas, sobretudo da Holanda, mas também da Alemanha, da Dinamarca e de França, que se estabeleceram na África do Sul nos séculos XVII e XVIII, cuja colonização vieram a disputar, posteriormente, com os britânicos. Desenvolveram uma língua própria, o afrikaans, derivado do holandês, mas com influências de algumas línguas indígenas de África. Assim, em qualquer cidade sul-africana, falam-se correntemente três dialetos, o inglês, o afrikaans e o dialeto da comunidade negra local que, em Cape Town, é o zulu. E talvez tenha sido essa mistura das comunidades locais, que me fez pressentir a existência da tal magia africana.
Os atuais sul africanos, resultam duma mistura das populações indígenas com os descendentes de europeus, mas mesmo esses, têm origens bem diferentes, uns são britânicos e outros são os chamados Bóeres. Os Bóeres descendem dos colonos calvinistas, sobretudo da Holanda, mas também da Alemanha, da Dinamarca e de França, que se estabeleceram na África do Sul nos séculos XVII e XVIII, cuja colonização vieram a disputar, posteriormente, com os britânicos. Desenvolveram uma língua própria, o afrikaans, derivado do holandês, mas com influências de algumas línguas indígenas de África. Assim, em qualquer cidade sul-africana, falam-se correntemente três dialetos, o inglês, o afrikaans e o dialeto da comunidade negra local que, em Cape Town, é o zulu. E talvez tenha sido essa mistura das comunidades locais, que me fez pressentir a existência da tal magia africana.
Mas neste dia ainda não me queria demorar muito na zona do porto, tinha toda uma cidade para explorar e iniciei um percurso que me levou diretamente ao downtown e pela zona histórica, até à Grand Parade, a imensa praça junto ao City Hall e ao Castle of Good Hope.
Atravessei depois o parque da cidade, The Company's Garden, um jardim com uma vegetação abundante e vários edifícios coloniais majestosos . . . e que é marcado pela figura imponente, lá ao fundo, da Table Mountain, o grande planalto, sempre visível, sempre presente, como que a proteger a cidade.
Atravessei depois o parque da cidade, The Company's Garden, um jardim com uma vegetação abundante e vários edifícios coloniais majestosos . . . e que é marcado pela figura imponente, lá ao fundo, da Table Mountain, o grande planalto, sempre visível, sempre presente, como que a proteger a cidade.
E do lado oposto do Company's Garden cheguei finalmente ao Mount Nelson Hotel, um dos hotéis de charme da cidade, e que era também o único destino que tinha sido programado com hora marcada - as cinco horas em ponto - the tea time.
Seguindo o conselho duns amigos, a Sónia e o Miguel Gião, entrei neste hotel rigorosamente às cinco horas para experimentar aquele que era referenciado como o melhor chá das cinco do mundo. Não sei se será ou não o melhor do mundo, mas posso assegurar que a experiência foi inesquecível.
O Mount Nelson Hotel, conhecido também como o Palácio Rosa, “oferece” um chá muito especial, que várias figuras do mundo da cultura, escritores e jornalistas, e até bloggers - e agora também eu - têm registado nas respetivas crónicas de viagem. Começa pelo ambiente . . . não sei de onde saem, mas a sala parece fazer parte da antiga colónia inglesa da Índia, com as famílias vestidas a rigor com as suas sedas e caxemiras. Depois é o enorme prazer da degustação, encontramos pequenas e delicadas sanduíches com recheios requintados, como salmão fumado, por exemplo. Os scones ingleses, não podiam faltar, e foram mesmo os meus preferidos. Um bolo de chocolate escuro, muito amargo para o meu gosto, merengue de limão, biscoitos ainda quentes, com creme de natas, e uma tarte de leite tipicamente sul-africana que, em afrikaans, é chamada de melktert . . . e muito, muito mais.
Mas a grande marca do Mount Nelson Tea é o próprio chá, que é obtido a partir de uma mistura, habilmente conseguida, de seis chás diferentes, Darjeeling, Quénia, Assam, Keemun, Yunnan e Ceilão, e pétalas de flores colhidas no próprio jardim do hotel. O chá das cinco é servido no salão, no terraço ou no jardim, ao redor da fonte, pelo custo (pelo menos para quem não é hóspede) de 265 Rand por pessoa, cerca de 20 € - os 20 € mais bem empregues da minha vida.
Depois de uma tremenda satisfação e quase comoção, mais pela experiência do que pelo banquete, saí daquele hotel como se quem regressa de uma antiga colónia do império inglês, de que a Cidade do Cabo foi um pilar fundamental, naquelas paragens a Sul do continente africano.
Faltava ainda passar pela Long Street, a rua mais carismática da cidade, onde, ao contrário dos locais que tinha visitado, se fazia notar bastante a presença da maioria negra. A Long Street é famosa por ser uma zona boémia, que apresenta sinais de uma cultura diversificada. Existem vários tipos de lojas, livrarias, alguns restaurantes e bares. Era esta a zona dos teatros onde passavam as peças de protesto anti-apartheid durante os anos 70 e 80, mas a maioria já fechou tendo sido substituídos por restaurantes ou lojas. Arquitetonicamente a rua é conhecida pelo seu estilo colonial, com construções vitorianas, com varandas de ferro forjado. Tanto pelo aspeto das casas, como por ser uma zona em que se nota o palpitar de um ambiente boémio, e até porque a maioria dos frequentadores locais são negros, esta rua parece claramente uma parte da Bourbon Street de New Orleans, nos Estados Unidos.
Entrei no mais carismático dos locais desta zona, o Long Street Café, um bar e restaurante enorme, com espaço para perto de uma centena de pessoas, frequentado sobretudo por negros, naquele dia bem animados, enquanto assistiam a um jogo de futebol que passava nos ecrãs gigantes e que terminou com a vitória do clube local, o Kaizer Chiefs, que ganhou, não só o jogo como também o campeonato, provocando uma onda de festejos eletrizantes e quase assustadores . . . contrastando com o mundo diametralmente oposto, ao jeito colonial, onde me tinham acabado de servir um requintado chá, havia menos de uma hora.
A tarde chegava ao fim e a noite começava a cair, num dia de emoções intensas, uma autêntica montanha-russa, num momento no seio da nobreza colonial britânica, tomando chá e, no momento seguinte, já numa África mais profunda, no meio de festejos, que eram de futebol, mas quase pareciam um protesto anti-apartheid.
Regressei ao Waterfront, onde jantei numa das esplanadas à beira-mar, terminando assim este dia grande, perfeitamente incrível e inesquecível e, naquela noite, ainda quente e acolhedora, detive-me ainda numa enorme curiosidade, pelo menos para mim que nunca tinha vivido um dezembro no hemisfério Sul, ao ver a paisagem enfeitada por uma enorme árvore de Natal, contrastando com o calor que ali se fazia sentir.
Carlos Prestes
Dezembro de 2014
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