Viajar por Itália traz-me sempre uma sensação muito agradável, como que um conforto de quem se sente em casa. Talvez pelas paisagens ou pelos hábitos locais, certamente pelas pessoas e por aquela língua cantada... mas também pelos paladares, pelos aromas e por todo um ambiente, que é tão cativante, e que se percebe em cada detalhe desta terra.
É provavelmente o país que melhor nos conseguirá proporcionar aqueles prazeres que só em Portugal costumamos experimentar. E é na Toscana, a província rural mais encantadora de toda a Itália, que essas semelhanças se tornam mais evidentes.
E é tão fácil deixarmo-nos envolver pelo gozo de uma vida prazenteira que tanto nos agrada. Do almoço prolongado à sombra de um alpendre que nos refresca do calor ardente. Da comida deliciosa, dos vinhos, dos queijos, dos sabores condimentados com ervas mediterrâneas. Do ecoar da música arrebatadora que se ouve em fundo, a ária de uma ópera italiana, que só ali me faz sentido.
E há sempre o poder esmagador das imagens, cada ângulo abre-nos um novo cartão postal que nos deslumbra. Um horizonte de tons dourados de um campo de trigo maduro, salpicado por enormes rolos de feno seco, que ali repousam. O verde intenso de uma vinha infinita junto ao vermelho vivo dos campos de papoilas. Ou uma casa senhorial, la casa dei padroni, sempre marcada pela linha de ciprestes que assinala o carreiro de acesso. Ou até uma fortaleza medieval, com séculos de histórias de combates sangrentos na proteção da aldeia, e que repousa agora tranquila, do alto da sua colina.
E é mesmo assim, quando descobrimos a Toscana, esse lugar tão mágico e acolhedor, apetece-nos ficar sempre mais um bocadinho, num dolce fare niente, para um último copo de Chianti com uma côdea estaladiça de pão molhado em azeite... e para um último olhar em volta, confirmando a imagem da perfeição.
Carlos Prestes
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