domingo, 15 de julho de 2012

O testemunho de um massacre - Museu Reina Sofía, em Madrid

Sempre que visito a capital espanhola, aquilo que mais me atrai, é o que se encontra nas próprias ruas, não só a arquitetura ou a geometria da cidade, mas sobretudo a azáfama que se observa. São as pessoas, que se movem com aquele ritmo tão castelhano, de viver sempre en las calles. São as esplanadas cheias de gente. São os restaurantes e barras de tapas, tão apelativos. E a mim, encanta-me entrar nesse ritmo frenético e deixar-me levar pela corrente, parando sempre para umas tapas e umas copas

Nunca deixei de aproveitar as noites quentes madrilenas e saborear as iguarias mais típicas que a cidade tem para oferecer. Começando invariavelmente por umas cañas, que ajudam a saciar a sede que o calor provoca, e ir depois degustando os vários menus de tapas . . . dos revueltos às tábuas de quesos e embutidos ibéricos, dos pimentos padron às tortilhas, das patatas bravas aos calamares

E no final da noite saio sempre com a mesma sensação, e com a certeza de que não estive no melhor dos restaurantes, nem experimentei a melhor das refeições . . . mas, naquelas noites quentes na frenética Madrid, duvido que algo que me pudesse ter sabido tão bem.


Mas Madrid não é só tapas e copas, Madrid é também um extraordinário pólo de concentração cultural e artística e, por isso, vou complementando as viagens que faço a esta cidade, com umas visitas mais culturais. E assim, ao longo dos anos, fui conhecendo alguns dos principais museus da cidade. E, desta vez, para fechar um fim-de-semana grande na capital espanhola, programei uma visita ao Museo Reina Sofía

É um dos mais importantes museus de arte moderna de Espanha e inclui algumas obras de referência. A sua coleção tem várias peças dos principais artistas espanhóis do século XX, como Salvador Dali, Juan Miró e, sobretudo, Pablo Picasso, autor do quadro Guernica, a grande atração do museu. 

O Guernica é um painel com 7,8m x 3,5m, pintado a óleo por Pablo Picasso em 1937. O quadro é enorme e perturbante, e é inspirado nos bombardeamentos que massacraram a cidade espanhola de Guernica, em abril de 1937, feitos por aviões alemães, durante a Guerra Civil espanhola, numa operação de apoio de Adolf Hitler ao ditador Franco. 

Enquanto percorri as várias salas do museu, com motivos de maior ou menor interesse, fui tendo a noção de que era um mero visitante do local e das peças de arte que ia observando. Algumas nem me chegaram sequer a tocar minimamente, mas houve outras que me envolveram e que me levaram a uma observação mais cuidada e demorada. Mas era sempre e apenas um espetador que apreciava aquela mostra de arte e nunca para além disso. 

Mas perante o Guernica a sensação foi diferente. Mais do que uma tela, foi como se Pablo Picasso nos tivesse deixado as imagens vivas de um massacre, que me envolveram como se estivesse a ocorrer algo de realmente trágico em cada instante em que a observava . . . e já não era só um mero espetador, passava a ser agora uma testemunha, sem poder ignorar aquilo que os meus olhos tinham acabado de presenciar. 
Foi assim que me senti, vivendo um momento especial, uma sensação quase irrepetível. Mas esta é claramente uma reação pessoal, não é algo que o quadro ofereça a todos os visitantes, podemo-nos envolver mais ou menos e, naturalmente, cada um terá sentido à sua maneira, a sua presença junto daquela obra. 

E, na verdade, qualquer que seja o impacto emocional que o quadro nos provoque, acabamos por fazer todos o mesmo. Entramos, paramos, olhamos, respiramos fundo, voltamos a olhar, demoramos o tempo que entendemos ser necessário . . . e abandonamos a sala. 

Mas se, para alguns, este processo começou e acabou naquele instante e naquele local, para mim, a imagem daquele quadro e do massacre que ele representa, perdurou na minha memória como uma história real perturbadora que, naquele momento, me foi dada a testemunhar.

Carlos Prestes 

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Il quartiere di Boccadasse


Para terminar a visita à cidade de Génova foi necessário voltar ao carro e fazer um percurso de cerca de 5km até à costa do lado Nascente da cidade, a Oeste do cabo de Santa Chiara.

O objetivo era visitar o bairro do Boccadasse, um antigo bairro típico de marinheiros e pescadores. O local é bastante pitoresco, com as casas de pescadores lindissimas pintadas nas mesmas cores que nos acompanham ao longo destes dias em que estamos na Ligúria, com semelhanças evidentes com as aldeias das Cinque Terre.

O bairro é visitado por muitos turistas que são atraídos pelas suas bonitas imagens que figuram em todos os folhetos turísticos sobre a cidade de Génova. Boccadasse possui um castelo e uma pequena praia, onde são guardados os típicos barcos dos pescadores.

A origem do nome deste bairro resulta da forma da baía em que se situa, sendo o nome formado a partir da abreviatura do termo genovês para boca de burro ou boca d'aze.

Uma bela forma de terminar esta vista à cidade de Génova e à região da Ligúria, neste fim de tarde nublado de águas calmas, observando a silhueta deste bairro tão bonito e pitoresco e imaginando façanhas de marinheiros de outros tempos, mas também de pescadores que, nos dias de hoje, continuam a enfrentar o mar em pequenas embarcações para garantir o sustento.



Il Caruggi di Genova


No coração da cidade velha encontramos uma malha apertada de ruas estreitas e becos, que caracterizam esta zona de origem medieval, e que vão intercetando pequenas praças, quase sempre ocupadas por esplanadas de restaurantes ou cafés, como é o caso da Piazza d’Erbe.

Nesta parte do centro histórico encontramo-nos num autêntico emaranhado de ruelas e pracetas encaixadas nos edifícios, normalmente altos e com as fachadas pintadas a cores pastel da Ligúria. São conhecidos como Caruggi, com uma tradução aproximada de “becos”, e que constituem a principal marca deste centro histórico, bem diferente de outro tipo de ruelas que encontramos nas demais cidades italianas.

Percorrendo este conjunto de caruggi, onde o sol não consegue entrar, podemo-nos deixar encantar com os traços mais típicos da cidade, imaginando histórias de uma vivência ancestral naquelas mesmas ruas, de uma cidade de pescadores e marinheiros que sempre viveu do mar e para o mar.

E em cada recanto a cidade vai-nos surpreendendo com novos becos e novas pracetas, sempre os Caruggi de Génova, que mantêm o mesmo aspeto do antigo centro da cidade, e são, ainda hoje, como eram antes, o seu coração palpitante.
    



La cattedrale di Genova


A Porta Soprana ou Porta di Sant'Andrea, que fica junto à casa de Colombo, foi uma das antigas portas da cidade e, apesar de ter sido construída na época medieval, mantém ainda hoje o seu aspeto original, com um arco central e duas torres laterais.

Esta porta assinala o limite entre a zona nova da cidade, com uma arquitetura clássica, e o seu centro histórico, a cidade medieval, constituída por uma teia de ruelas apertadas, autênticos becos, os chamados Caruggi, que nos levam a vaguear por entre as casas mais típicas da cidade e uma coleção interessantíssima de monumentos e edifícios históricos, onde se destaca a imponente Cattedrale di San Lorenzo, o duomo da cidade de Génova.

Esta igreja, consagrada a San Lorenzo, foi fundada no século IX e, desde logo, foi escolhida como catedral da cidade devido à sua localização protegida, no interior das muralhas da cidade.

Tem uma fachada magnífica com listas brancas e negras, dos dois tipos de mármore utilizados e caracteriza-se por conter vestígios dos diversos estilos arquitetónicos da cidade, desde o portal lateral de San Geovanni, no estilo românico, datado do século XII, aos elementos barrocos de algumas capelas laterais e, no extremo oeste, os três portais em estilo gótico francês.

A capela mais luxuosa da catedral é dedicada a São João Batista, o santo padroeiro de Génova, com um sarcófago do século XIII, onde outrora foram guardadas as relíquias do santo.

Existe ainda um museu, Museo del Tesoro di San Lorenzo, um autêntico relicário localizado no piso inferior e com entrada pela sacristia, que guarda diversos tesouros, com destaque para um prato de vidro verde que, supostamente, terá sido usado na Última Ceia e um prato caledónico azul onde, alegadamente, foi apresentada a Salomé a cabeça de São João Batista.

São vários os atrativos que justificam uma visita a esta igreja imponente que se ergue de forma inusitada no meio da teia de pequenas ruelas e casas amontoadas que formam a cidade medieval.

A pátria-mãe do grande almirante - Génova


A cidade de Génova é bem diferente da maioria das cidades italianas e, na minha opinião, nem é, de todo, das mais interessantes deste país. Historicamente a cidade é um local de referência, a antiga república marítima de Génova, que teve um papel de destaque na exploração do mar e no descobrimento de novas terras ao longo dos séculos da sua existência. 

Terá mesmo sido o berço oficial de um dos principais marinheiros da história, Cristóvão Colombo, ou Cristoforo Colombo, um genovês que descobriu meio mundo, embora nunca em representação do seu país natal . . . mas, a realidade talvez não seja bem essa e talvez o grande almirante nem seja sequer genovês, mas isso são teorias de conspiração que mais à frente vou revelar. 

A cidade é bastante grande mas os locais mais interessantes para uma visita turística acabam por se confinar apenas aos bairros, ou distritos, mais típicos, que incluem o porto e o centro histórico, com os chamados Caruggi, um emaranhado de ruelas e becos, entalados entre edifícios, normalmente altos e com as fachadas pintadas nas cores pastel da Ligúria

Ao longo da nossa visita atravessámos as principais ruas e praças da cidade até chegarmos à Piazza Dante onde se encontra, junto à Porta Soprana, a Casa de Cristoforo Colombo. Trata-se de um pequeno edifício com uma fachada degradada onde, supostamente, terá nascido e vivido, durante a sua infância, o famoso navegador e explorador do Novo-Mundo, e onde está atualmente o museu La Casa di Colombo.
Quando viajamos ficamos surpreendentemente interessados em temas que nos eram completamente indiferentes, mas que, subitamente, nos passam a fazer todo o sentido. Isso está sempre a acontecer e, no caso concreto da cidade de Génova, é quase natural que se acabe por refletir um pouco sobre a figura daquele marinheiro que descobriu meio mundo e que terá nascido e vivido ali, bem naquele local. 

Mas, neste caso, existe ainda uma dúvida razoável, que é também uma curiosidade interessante, porque, na verdade, não há a certeza de que Cristóvão Colombo tenha mesmo nascido naquela casa, nem sequer, que tenha nascido na cidade de Génova. 

Para mim - e lá vem a teoria da conspiração - Cristóvão Colombo não era, de todo, o filho de um tecelão genovês . . . Cristóvão Colombo seria antes, um fidalgo português. Um português nascido no século XV em Cuba, no Alentejo (não foi um acaso ter baptizado com o mesmo nome a maior ilha que descobriu no mar das Caraíbas). Era judeu e era fidalgo, porque um filho de um tecelão não chegaria a comandante de uma armada e jamais poderia desposar uma fidalga, como Colombo, que casou com Filipa Moniz, uma portuguesa filha do governador (na altura, chamava-se capitão donatário) da ilha de Porto Santo. 

Mas se era português, porque razão D. João II lhe negou o apoio da coroa portuguesa para uma expedição na busca do Novo-Mundo? . . . o que o fez rumar a Espanha, tendo sido em nome da coroa espanhola que o navegador se fez ao mar e encontrou as Américas, no ano de 1492. 

A resposta é, também ela, parte da mesma teoria da conspiração. A verdade é que os portugueses já conheciam o que existia a Oeste nas suas incursões por aquelas bandas, embora só tenham formalizado o descobrimento do Brasil seis anos depois de Colombo ter descoberto a América. Mas, conhecendo aquela linha de continente, os portugueses já sabiam que não seria daquele lado que se iria encontar aquilo que todos procuravam . . . e que era a Índia (vá-se lá saber porquê mas naquela época os Reis passavam-se com pimenta e canela e outras ervas de cheiro). 

Assim, Colombo foi para Espanha, não por ter sido rejeitado por D. João II, mas justamente por ter sido enviado por aquele monarca, para fazer com que a armada espanhola seguisse para Ocidente, desviando-se irremediavelmente da direção que os levaria até à Índia. E a América foi apenas um efeito secundário, uma espécie de prémio de consolação. 

E foi desta forma que, alguns anos depois, Portugal, representado por Vasco da Gama, já durante o reinado de D. Manuel I, descobriu o caminho marítimo para a Índia entre 1497-1499. Ou seja, ficámos nós com as especiarias, no bem-bom, enquanto eles tiveram de se contentar com a América e as Caraíbas . . . se calhar sou só eu, mas isto não me soa lá muito bem!!! 

Só para rematar, esta teoria não é minha e já li justificações que a vão comprovando ao longo das várias fases da vida de Cristóvão Colombo. E eu, que até sou bastante sético, neste caso achei que faziam todo o sentido. 

Mas sendo português ou genovês, a verdade é que estamos perante aquela que é a casa oficial do grande almirante e, se pensarmos bem, isso é algo que nos impressiona . . . imaginarmos que foi ali que o pequeno Cristoforo terá - eventualmente - nascido e dado os seus primeiros passos, antes de se fazer marinheiro e ter trazido novos mundos ao mundo. 

Carlos Prestes 

O centro clássico da cidade de Génova


A cidade de Génova é bem diferente da maioria das cidades italianas e, na minha opinião, não é, de todo, das mais interessantes deste país. Tinha cá vindo numa passagem fugaz durante um inter-rail e não fiquei com grande vontade de voltar, e passaram quase 30 anos para esse regresso. Mas desta vez a cidade pareceu-me bastante diferente, sobretudo na zona do porto que era apenas um porto industrial e agora toda aquela zona é uma imensa marina e um dos locais que mais atrai os habitantes da cidade e todos os que a visitam.

Historicamente a cidade é um local de referência, a antiga república marítima de Génova teve um papel de destaque na exploração do mar e no descobrimento de novas terras ao longo dos séculos da sua existência. Terá mesmo sido o berço oficial de um dos principais marinheiros da história, Cristóvão Colombo, ou Cristoforo Colombo, um genovês que descobriu meio mundo, embora nunca em representação do seu país natal... mas a realidade talvez não seja bem essa e talvez o grande almirante nem seja sequer genovês, mas isso são teorias de conspiração que vou desenvolver noutro post.

A cidade é bastante grande, mas os locais mais interessantes para uma visita turística acabam por se concentrar em três bairros, ou distritos, que incluem o porto e o centro histórico, com um emaranhado de ruelas e becos, ou Caruggi, como aqui são chamados. Foram esses três bairros, San Vincenzo, Molo e Maddalena, que percorremos ao longo do dia que passámos na cidade de Génova. Terminámos depois de uma breve paragem em Boccadasse, um antigo bairro típico de marinheiros e pescadores.

Mas antes de entramos definitivamente pela parte velha da cidade, estivemos no centro clássico da cidade, toda a zona em torno da Piazza de Ferrari, ou Piazza Raffaele de Ferrari, que é talvez a praça mais emblemática de toda a cidade, localizada no seu coração, quase no limite do centro histórico, e que é conhecida pela sua fonte majestosa, quase um ícone da cidade de Génova.

Na envolvente da praça existem vários edifícios clássicos, como o Palácio Ducal, o Museo Accademia Ligustica di Belle Ar, o Teatro Carlo Felice e o monumento a Victor Emmanuel II. Mas estão ali também alguns dos mais importantes edifícios de escritórios, sedes de bancos e companhias de seguros, o que torna esta praça como o principal centro financeiro e de negócios da cidade de Génova. No final do século XIX, Génova era um dos principais centros financeiros italianos, juntamente com Milão, e a Piazza de Ferrari foi sempre o lugar onde as grande instituições se estabeleceram, como a Bolsa de Valores, o Crédito Italiano ou a filial do Banco da Itália.

Hoje é uma praça movimentada, marcada sobretudo pela presença dominante da La fontana di Piazza De Ferrari, a mais importante de todas as fontes da cidade.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

A praias mais típicas da Ligúria - Camogli


Continuando pelas estradas sinuosas da Riviera num percurso de cerca de 10km desde Rapallo, chegámos a Camogli, uma das muitas praias que esta zona vai oferecendo ao longo de toda a costa até Génova. No entanto, embora os locais sejam bastante charmosos as praias não se aproximam do nosso conceito daquilo que é uma praia. Além de não haver areia branca, e às vezes nem há mesmo areia, as praias são praticamente privadas, porque a grande maioria do espaço fica ocupada pelos concessionários que criam uma espécie de esplanadas com espreguiçadeiras, e nada se assemelha à imagem habitual das nossas praias. Além disso, durante o Verão estas praias ficam apinhadas de banhistas e o local perde grande parte da sua beleza, por isso esta zona torna-se claramente mais bonita e interessante fora da época alta, como foi o caso das nossas duas últimas viagens, ambas na Primavera.

Das várias zonas balneares desta costa escolhemos Camogli, por ser muito mais do que uma simples zona de praia, mas sim uma vila já com alguma dimensão e bastante interessante, sobretudo pela sua arquitetura tão pitoresca, que se desenvolve ao longo de toda a praia e na baía do porto.

Já junto à praia encontramos um calçadão pedonal, a Via Giuseppe Garibaldi, cheia de restaurante e gelatarias, que se estende numa extensão de cerca de 400m, começando por ser apenas uma ruela por entre as casas, mas que, depois, já junto à praia, percorre toda a baía até ao lado oposto onde se ergue a Basilica di Santa Maria Assunta, construída sobre uma pequena península rochosa que separa a praia do porto da marina.

A beleza do interior desta pequena basílica é bastante afamada e faz parte dos registos, mas certamente nada é mais singular e mais precioso nesta igreja do que a beleza do seu edifício naquele enquadramento tão pitoresco, entre as casas coloridas e o azul do Mediterrâneo.
Atravessando a zona da península em que se ergue Basilica di Santa Maria Assunta chegamos a uma outra baía, ocupada por uma marina e pelo porto de pesca, totalmente rodeados por edifícios idênticos aos demais desta vila, conferindo a este porto um aspeto pitoresco e uma paisagem muito peculiar, que não se encontra noutros locais, mesmo aqui em Itália.

O glamour da Riviera italiana - Portofino


No extremo de uma península montanhosa na Riviera italiana, a cerca de 30km de Génova, desenha-se uma enseada onde repousa a pitoresca aldeia de Portofino, que é também uma marina natural lindíssima, ornamentada pelos contrastes entre as casas pintadas nas cores pastel da Ligúria, o azul forte das águas do Mediterrâneo e as encostas matizadas de verde viçoso. 

Na minha última chegada a Portofino o dia acordava com o céu nublado e a aldeia adquiria um aspeto melancólico e algo diferente do que se espera duma zona balear como esta. Relembrou-me uma referência cinematográfica que me leva sempre a este lugar, o filme Al di là delle nuvole (Para além das nuvens), um conjunto de quatro contos encantadores, criados de forma sublime por Michelangelo Antonioni. E a memória leva-me ao segundo conto, onde Portofino surge cinzento e enevoado, como cenário para as cenas de um amor impudico, entre Sophie Marceau e John Malkovich.

E saindo do cinema, mas ainda fora do mundo real, Portofino era também a referência das passerelles internacionais por onde passavam as super top-models, nos desfiles que davam na televisão portuguesa, realizados em plena Piazza Martiri dell'Olivetta, a praça principal junto à baía que banha a aldeia.

Depois havia ainda uma recordação muito pessoal, daquilo o meu pai me dizia sobre este local, um dos que mais tinha gostado de tudo o que visitou em Itália, o que sempre me deixou curioso sobre este lugar, aparentemente um pequeno e quase insignificante povoado, mas que seria certamente muito especial.

E foram todas essas imagens e essas referências que me acompanharam e estimularam de todas as vezes que percorri as ruas de Portofino... nunca era apenas aquele momento que ali estava a ser vivido, havia sempre todo um lastro de memórias, algumas seriam pouco mais que imaginação, mas que me faziam sentir que estava num local que me era sempre familiar. 

Mas, em qualquer dos casos, de cada vez que chegamos a Portofino, torna-se incontornável a beleza daquele local... e não são precisas memórias ou referências ao cinema para reconhecer que estamos perante um lugar mágico e encantador.

E ao sair do centro, requintado e glamouroso, seguindo pelo paredão que contorna a baía, podemos escalar os trilhos que nos levam até ao topo da colina do lado Poente, e daí contemplar a melhor paisagem que Portofino nos pode oferecer...
onde a beleza da aldeia se torna tão evidente que é inevitável que nos deixemos deslumbrar de uma forma quase apaixonada.
Carlos Prestes




quarta-feira, 18 de abril de 2012

O castelo flutuante de Rappalo


Do lado Nascente da baía de Rappalo encontramos o ícone principal da cidade, uma fortaleza que se ergue do mar, como um castelo flutuante. O Castello di Rapallo encontra-se em pleno espelho de água da baía, ao contrário da maioria dos castelos, que se localizam nos montes mais altos. A sua construção remonta ao século XVI e contém no seu interior uma pequena capela dedicada a San Gaetano, construída no século XVII.

O monumento é o símbolo principal da cidade de Rapallo e foi declarado como um monumento nacional italiano, mas é sobretudo uma preciosidade paisagística, quando enquadrado na magnífica baía que banha esta cidade.

Pela manhã percorremos toda a zona marginal em torno do espelho de água, que nos foi revelando algumas paisagens particularmente bonitas, com destaque para esta imagem curiosa que enquadra o castelo, que emerge do mar como se flutuasse, com as casas e mansões coloridas ao fundo, a preencherem a encosta verdejante e formando um conjunto magnífico.


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Rapallo, à entrada da Riviera


A cidade de Rapallo é a maior da zona da Riviera italiana e serve muitas vezes como base para visitarmos os locais mais interessantes desta região, mas não deixa de ser também uma cidade bastante bonita que merece ser visitada por si só.

A cidade desenvolve-se em torno de uma baía circular com cerca de 500m de diâmetro e apresenta um centro histórico muito característico, também com os edifícios coloridos, tanto os mais clássicos como até os mais modernos.

Tivemos o primeiro contacto com Rapallo já à noite, quando saímos para jantar depois de regressarmos das Cinque Terre e ficámos encantados com a quantidade e qualidade de restaurantes que a cidade disponibiliza, sempre com um ambiente muito agradável e acolhedor. São restaurantes para todos os gostos e todas as bolsas, sobretudo com uma oferta à base de peixe e marisco, principalmente ao longo da marginal que delimita a baía e que se torna esplendorosa, sobretudo durante a noite, quando é particularmente marcada pela presença de um castelo iluminado sobre uma pequena língua de terra que invade o mar junto à costa.

Entrámos mais tarde no centro histórico onde percorremos a malha de ruas apertadas entre os prédios típicos que formam esta zona da cidade, até encontrarmos o hotel onde iríamos ficar. Desta vez, cometemos a imprudência de escolher um hotel bem no centro histórico da cidade, na praça principal, a Piazza Cavour, junto à Basílica dei Santi Gervasio e Protasio, no último andar de um prédio antigo, pintado a amarelo caril, mesmo ao lado da torre da basílica… onde começaram a martelar vigorosamente os sinos a cada hora da manhã, que era ainda madrugada.

Mas, ao amanhecer, ao tomarmos o primeiro cappuccino do dia numa esplanada que nos oferecia a magnífica imagem da torre da basílica, esquecemos o sono agitado e sentimo-nos compensados por podermos estar ali àquela hora, e poder aproveitar toda aquela envolvente.


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A Riviera Italiana


A zona da Riviera é uma das mais elegantes e glamourosas de Itália, sobretudo Portofino, um local que me encantou logo na primeira visita, ainda nos anos 80, o que me fez lá voltar depois disso mais três vezes.

São cidades, ou aldeias, com grande charme, embora sejam frequentadas de forma massiva na época balnear, apesar das praias não terem a qualidade a que estamos habituados no nosso país e, muitas delas, serem privadas.

Mas para além dessa afluência mais popular em época alta, a Riviera é também o local de concentração das grandes fortunas, de Itália e de França, tal como a Riviera francesa, por onde circulam nos seus Bentleys ou Ferraris, entre os campos de golf e os restaurantes de altíssimo nível e pelas marinas apinhadas de barcos de luxo. Atrizes, top-models e milionários, numa combinação comum, são alguns dos frequentadores desta zona que tem uma arquitetura preciosa, que consegue misturar a traça pitoresca da Ligúria com toda uma envolvente luxosa.

E nós, turistas portugueses, tentamos experimentar o luxo e o charme de alguns locais, mas sem direito a andar de Ferrari e sem nos esticarmos muito nos restaurantes, ou entrar nas festas privadas dos iates da marina. Mas, ainda assim, é um local onde nos conseguimos sentir bastante bem e tem uma oferta tão grande de restaurantes e esplanadas, que nos permite pairar entre o luxo e a realidade sem nos sentirmos diminuídos.

Mas a principal marca desta zona de Itália e que se vai revelando em cada baía que se forma ao longo da costa, são as paisagens magníficas do contraste entre o mar e a serra, o azul das águas do Mediterrâneo e as encostas verdejantes adornadas pelas casas, por vezes casas de luxo, sempre coloridas com aqueles tons quentes, tão típicos desta zona da Ligúria.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Monterrosso del Mar


Faltava apenas a aldeia de Monterrosso ou Monterrosso al Mare, a última das Cinque Terre e a única que que tem uma praia, embora com areia escura e calhau, mas que é mais apetecível que as das outras aldeias, não tanto pela areia, mas pela água, de um azul vivo e com uma boa temperatura, como em todo o Mediterrâneo.

A estação ferroviária fica mesmo junto à praia que se desenvolve ao longo de uma baía com cerca de 400m. No contorno da praia existe um calçadão pedonal, a Via Fegina, que é um espaço bastante agradável para caminhadas, com esplanadas e gelatarias. Percorre toda a baía e leva-nos por um túnel pedonal que atravessa o penhasco, que separa a praia da aldeia.

Já do outro lado, ao chegarmos à aldeia, encontramos uma outra baía, também bastante bonita, e uma outra praia, menor que a anterior, com cerca de 200m.

Entramos depois nas ruelas da aldeia com casas coloridas, como nas aldeias vizinhas, mas não tão bonitas. Encontramos também a igreja católica, que é o único monumento deste lugar, a Chiesa di San Giovanni Battista.

Voltámos à primeira baía e aproveitámos o contorno da praia para uns banhos de sol retemperadores, no final de um dia tão rico, mas tão cansativo, terminando assim em beleza esta viagem às fantásticas aldeias das Cinque Terre.

 
Falta-me ainda falar da gastronomia local e, porque estamos na Ligúria, será incontornável experimentarmos o molho de Pesto, originário desta região de Itália, um preparado com manjericão, pinhões, queijo e alho.

Assim, na paragem que fizemos para almoço, numa das esplanadas que estas aldeias sempre oferecem, experimentámos justamente um prato típico da região, o Trofie al Pesto. Pode ser considerado o prato mais clássico da Ligúria, por ser feito com o pesto local e com trofie, um tipo de massa que é também da região, bastante bom, mas com um aspeto um pouco duvidoso, quase parecem “minhocas” brancas.

Mas o conjunto é excelente, sobretudo porque o acompanhámos com um branco seco (muito fresquinho) feito das uvas de vinhas plantadas nas encostas íngremes desta região da Ligúria.

Carlos Prestes



Vernaza


Vindos de Corniglia, de Monterrosso ou de Manarola, o destino seguinte será a aldeia de Vernazza, mais uma das Cinque Terre.

Uma aldeia com uma arquitetura mais rica que as demais, incluindo alguns monumentos, como o edifício da Comune di Vernazza, o Castello Doria di Vernazza, junto ao mar, e a Chiesa di Santa Margherita di Antiochia, junto à baía que serve de praia e de porto, de recreio e de pesca.

As ruas não passam de pequenas ruelas ou becos que convergem até à baía, onde contemplamos o mesmo tipo de casas com as cores quentes da Ligúria, que fazem desta baía um local típico e pitoresco.

No mês de abril a aldeia não mostrava ainda as imagens de uma zona balnear, com barcos de recreio e muitos turistas a nadar ou nas espreguiçadeiras. Mas, num dia bonito, como era este, mesmo ainda distantes do Verão, podemos já aproveitar as esplanadas de alguns dos restaurantes abertos na orla do mar e apreciar toda a beleza envolvente, bem visível nos traços de uma aldeia tão pitoresca como esta.  

Carlos Prestes


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Corniglia


A partir de Manarola a aldeia seguinte é a de Corniglia, mas esta é a única das cinco aldeias que não tem acesso direto por comboio. Embora no mapa ferroviário a linha passe muito próxima da aldeia, na verdade, enquanto Corniglia fica no alto de uma montanha rochosa, o comboio cruza essa mesma montanha, mas através de um túnel, quase ao nível do mar.

Desta forma, quem quiser visitar Corniglia deve continuar até à próxima paragem de comboio, já na aldeia de Vernazza, e daí apanhar um autocarro que faz o percurso de cerca de 6km até ao alto da encosta, e assim, poder visitar a aldeia de Corniglia. No final da visita deverá depois fazer o trajeto inverso.

Corniglia é claramente a aldeia menos interessante das cinco e, por isso, a maioria dos visitantes acabam por nem ir lá, devido a toda a logística que é necessária. De qualquer forma, e para quem decida fazer esta visita, saiba que, mais interessante do que entrar e visitar a aldeia de Corniglia, será a paisagem durante o percurso de autocarro, em que é possível contemplar de vários ângulos as bonitas imagens ao longe da própria aldeia.

Carlos Prestes


Manorola


Para seguirmos até à próxima aldeia resolvemos dispensar o comboio e fizemos o percurso a pé seguindo pela Via dell'Amore, um trilho estreito, com cerca de um quilómetro, esculpido na encosta, e que nos leva num trajeto sobre o mar até à aldeia de Manarola, sempre com paisagens magníficas.

É considerado como o caminho do amor porque os casais apaixonados têm vindo a escolher aquele local, de paisagens românticas e sublimes, para celebrar e reforçar as suas relações amorosas, fazendo declarações de amor ou mesmo pedidos de casamento. Outros prendem um cadeado ao corrimão que percorre todo o trilho e que, supostamente, se irá manter firme, e com ele, aquela paixão será reforçada.
No final do trilho chegámos à aldeia de Manarola, a segunda do Parco Nazionale delle Cinque Terre (e quem for de comboio irá sair numa estação que fica bem no centro da aldeia).

É uma das aldeias mais pequenas, mas não deixa de ser uma das mais bonitas, com as casas sempre naquelas cores pastel desta região, amontoadas sobre um rochedo que cai abruptamente onde o mar desenha uma lagoa que é também o seu porto de pesca.
 

Carlos Prestes

Riomaggiori


Depois de nos livrarmos do carro num qualquer estacionamento em La Spezia ou em Monterrosso, e acreditem que isso constitui o principal desafio para quem visita esta zona da Ligúria, entramos num dos comboios que percorrem a linha marginal e estamos preparados para conhecer as belíssimas Cinque Terre.

Quatro destas cinco aldeias ficarão a escassos 5 min de comboio entre cada uma delas, depois é só escolher por que ordem queremos fazer a visita. Neste caso começámos de Sul para Norte, ou seja, a primeira paragem foi em Riomaggiori.

É uma das aldeias mais bonitas, com as suas casas pintadas nas cores típicas da região, quase amontoadas entre si e dispostas sobre as encostas de um vale ingreme que se encaminha para o mar, que aqui é de um azul forte e brilhante.

Para além de ser uma atração turística muito procurada, a aldeia é também conhecida pelo vinho que é produzido nas vinhas que se dispõem ao longo das encostas. São visíveis em alguns locais destas aldeias, pósteres ou fotos que mostram a vinha plantada em socalcos talhados nas ravinas, bem como o processo da vindima, feito de forma totalmente artesanal, com recurso a uma espécie de funiculares improvisados para transportar os cestos das uvas. O vinho é um branco seco, não é soberbo, mas é muito razoável.

Apesar desta e das restantes aldeias serem atravessadas por uma linha de comboio, a maior parte dos trechos dessa linha são em túnel e quase não interferem na paisagem, como aqui, em que o comboio só sai do túnel mesmo na estação, que fica sobre um viaduto com vãos em arco. Como a aldeia se desenvolve sobre as encostas de um vale muito íngreme todas as ruas vão convergindo para a rua central, a Via Colombo, que passa sob a estação e desce até ao mar, numa pequena praia de calhau preto com uma rampa para apoio na entrada e saída das embarcações de pesca... numa zona onde o emaranhado de casas coloridas quase se encavalitam para aparecer na fotografia.
Riomaggiori é um daqueles locais onde nos faz apetecer ficar parados, apenas a contemplar a paisagem, e existem vários pontos onde conseguimos uma vista privilegiada para essa reflexão… e estamos perante o mar imenso, de um azul brilhante a beijar a aldeia numa pequena enseada, formando um conjunto que é quase comovente... ou temos a própria aldeia, que é só uma terrinha de pescadores, e chega a fazer-nos lembrar alguns filmes italianos, como o “Il Postino” (O carteiro de Pablo Neruda), que não foi ali rodado, mas o ambiente de aldeia piscatória está lá e é bem evidente.
Que encantador é este lugar que quase nos causa arrepios, tal é a beleza que nos rodeia e que nos chega a parecer quase irreal.

Carlos Prestes

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Portovedere, la sesta terra


Às principais aldeias das Cinque Terre acrescentámos uma outra, também ela incluída na classificação de aldeias património, trata-se de Portovedere, uma outsider deste conjunto afamado de aldeias da Ligúria, mas também ela encantadora.

Localizada a apenas 13 km da cidade de La Spezia, Portovedere é uma das típicas aldeias da costa da Ligúria, com as suas casas pitorescas com fachadas pintadas a cores pastel, contrastando entre si de forma muito característica.

Esta aldeia tem a particularidade de ter as muralhas de um castelo no alto da montanha e uma torre de igreja, que enquadram a linha definida pelos telhados dos edifícios, dando origem a um conjunto particularmente bonito. Num breve percurso conseguimos chegar aos pontos mais altos desta fortaleza de onde podemos contemplar a paisagem envolvente da baía que se forma em frente à aldeia, e do cais que se estende até ao mar através de um promontório rochoso, onde se ergue a bonita Chiesa di San Pietro.

Todas estas paisagens são lindíssimas, mas a minha imagem favorita, é aquela que mostra o conjunto de casas que quase se empurram umas às outras, cada uma delas com as suas cores vivas, num contraste digno de um quadro a pastel, criando uma paisagem imperdível, tão ou mais encantadora do que aquelas que encontramos nas aldeias que formam o grupo formalmente designado por Cinque Terre.

Carlos Prestes


A desilusão parmegiana - Parma


Uma grande desilusão... foi a principal sensação que me ficou da cidade de Parma. Mas talvez a culpa tenha a ver com a concorrência fortíssima das cidades que acabámos de visitar há poucos dias, quando andámos por Pádua, Bolonha e, sobretudo, Veneza, e depois chegamos a Parma e já pouca coisa nos fascina. E o facto de estar um dia cinzento e chuvoso também não terá ajudado nada.

Mas como esta é também a cidade do delicioso prosciutto di Parma e do famoso formagio parmegiano, contava, pelo menos, poder degustar essas iguarias, mas nem isso me calhou, talvez por azar, mas não encontrámos nenhum local suficientemente apelativo onde pudéssemos provar in situ aquelas especialidades locais.

Mas ainda assim não deixámos de fazer a visita à cidade passando pelos locais mais interessantes, que se dispõem num centro histórico bastante pequeno, o que faz com que o percurso necessário para conhecer a cidade seja relativamente curto, pouco mais de 3km. Assim, fomos percorrendo a malha de ruas do centro, onde é visível a arquitetura clássica que a cidade vai revelando, sempre na direção da praça mais monumental da cidade, a Piazza Duomo.

E foi ali que encontrámos os monumentos mais belos e interessantes de toda a cidade, o Duomo, o Batistério e o Palácio Episcopal, que formam um conjunto arquitetónico preciosíssimo que preenche a pequena Piazza Duomo.

O Duomo da cidade, também conhecido como Catedral de Santa Maria Assunta, com as fachadas em estilo românico, típicas das igrejas das cidades do Norte de Itália. No interior o estilo românico é ainda predominante, embora algumas das partes principais, como a nave central e a cúpula, tenham sofrido várias intervenções renascentistas e algumas das capelas laterais tenham sido mais tarde reformuladas em estilo gótico.

O Batistério, um templo lindíssimo dedicado ao ritual batismal, faz conjunto com a Catedral de Parma numa junção entre a arquitetura românica e a arquitetura gótica. Foi construído ao longo do século XIII, sob a inspiração do estilo gótico. O material dominante nas fachadas é o precioso mármore rosa de Verona, que muito contribui para uma beleza arquitetónica incontestável, que faz deste monumento o mais marcante de toda a cidade de Parma.

O dia estava chuvoso e a Piazza Duomo completamente vazia, e sem as cores que um dia de sol poderia fazer realçar, os dois monumentos não mostravam a beleza que uma arquitetura tão valiosa deveria revelar. Resolvi então fazer esta foto apenas em tons de sépia, para que os contornos fossem visíveis e a imagem revelasse um requinte semelhante àquele que nos era mostrado no local... um espaço solene, quase intimista, vazio e silencioso, sem cor e sem movimento.
Terminámos uma visita curta e pouco inspiradora a esta cidade de Parma, à exceção dos breves momentos que passámos na Piazza Duomo, e deixámos a cidade sem entusiasmo e sem alegria… na verdade, não me conformava com a ideia de que não poder provar umas fatias suculentas do afamado prosciutto di Parma, nem um daqueles queijos gigantes, que parecem pneus, e de onde se vão retirando pedaços do belo formagio parmegiano… nada disso aconteceu, uma tremenda desilusão, portanto!

domingo, 15 de abril de 2012

Le due torri - Bolonha


Bolonha poderá ser conhecida como a cidade das arcadas, devida à extensão das sucessivas galerias em arco que vamos encontrando, mas a cidade não pode ser dissociada de uma outra imagem, também ela dominante, e que tem a ver com as suas torres tão características que encontramos ou imaginamos, e que constituem uma marca incontornável da história medieval desta cidade.

Caminhar pelas ruas do centro histórico de Bolonha é um prazer, quase como se voltássemos à Idade Média, os seus edifícios e, sobretudo, aquelas torres, levam-nos ao imaginário que o cinema nos ajudou a contruir das épocas de reis e rainhas, de batalhas sangrentas e das grandes epidemias.

Nessa época existiam muito mais torres… torres para todos os gostos e todos os feitios, mas que foram desaparecendo ao longo dos séculos, existindo atualmente apenas vinte das quase duzentas que a cidade envergava no final do século XII... seja isso mito ou realidade.
São torres que vão surgindo ao longo da cidade, umas isoladas e outras como campanários das muitas igrejas que ali se encontram, mas, de todas elas, salienta-se claramente o conjunto que associamos como símbolo tradicional da cidade de Bolonha e que é constituído pelas chamadas Due Torri (duas torres).

Le Due Torri resultam da combinação das torres de Garisenda e de Asinelli, já ambas em condições de verticalidade muito duvidosa.

A Torre Garisenda, a mais pequena, tem hoje uma altura de 48m, embora inicialmente tivesse sido mais alta, com cerca de 60m, mas teve que ser rebaixada devido à cedência do solo de fundação, que a deixou oblíqua e insegura. Inicialmente tratava-se de uma propriedade privada, daí o seu nome, que corresponde ao da família proprietária, mas, no final do século XIX, a torre tornou-se uma propriedade municipal.

É também chamada como a torre Dante, que terá visto a torre tão inclinada quando era estudante na Universidade de Bolonha que lhe dedicou uns versos na Divina Commedia (Inferno, canto 31º), que se podem ler numa lápide colocada atualmente na base da torre.

A Torre de degli Asinelli, a mais alta das duas, com 97m, foi construída no século XII para abrilhantar as vaidades da família dos Asinelli, mas rapidamente passou a fazer parte das propriedades da Comuna local e começou a ser utilizada como posto de vigia para defesa da cidade.

Hoje em dia, este conjunto de torres, embora num estado de conservação e estabilidade algo periclitante, é ainda um dos monumentos de referência desta cidade e da sua paisagem.

Carlos Prestes


As arcadas de Bologna


Vaguear sem destino pela cidade de Bolonha é algo fascinante, trata-se de uma cidade histórica que nos vai mostrando sempre novos lugares cheios de encanto e magia, quer nas ruelas mais apertadas ou pelas ruas mais amplas… e foi assim que nos deixámos surpreender durante horas, sempre numa busca pelos pormenores que nos iam surgindo, alguns deles autênticas joias.

E uma das características encontradas, que constitui uma referência da arquitetura da cidade, é a existência de longas galerias com arcadas, que marcam a imagem das fachadas dos edifícios, funcionando como espaços comerciais ou apenas como passeios cobertos, usados para que as pessoas possam caminhar abrigados da chuva ou da neve.

Bolonha tem mais de 30km dessas galerias, como uma teia paralela de caminhos cobertos, com arcadas ou pórticos, sendo a galeria mais longa aquela que é conhecida como Via di San Luca, com mais de 2km, entre o Arco Del Meloncello e o Santuário Madonna di San Luca.

Carlos Prestes


Piazza Maggiore - Bolonha


Bolonha é uma cidade cheia de história e com uma arquitetura preciosa, marcada pela sua origem Etrusca, com os edifícios de tonalidade avermelhada ou de terracota que domina todo o centro da cidade, onde se sucedem monumentos e igrejas, edifícios com extensas arcadas e também as torres medievais, sobreviventes de uma época em que a cidade era dominada por este tipo de construções.

Mas, atualmente, Bolonha é uma cidade moderna que combina o seu aspeto ancestral com uma vivência animada e cosmopolita. É uma das cidades universitárias italianas mais importantes, com cerca de 100 mil estudantes, e mistura a sua história, a arte e a cultura, e uma gastronomia admirável, com um ambiente jovem e estudantil, que faz desta cidade um dos polos turísticos imperdíveis numa visita ao Norte de Itália.

A forma de conhecermos a cidade de Bolonha será, necessariamente, caminhando. E não é sequer preciso fazer grandes percursos, porque a cidade histórica é relativamente pequena e em 3 a 4 km conseguimos percorrer todos os locais de maior interesse.

O percurso que fizemos constituía apenas uma das várias alternativas para conhecermos o centro histórico. De qualquer forma, e seja qual for o trilho escolhido, passaremos inevitavelmente pelos monumentos mais importantes e pela praça mais emblemática da cidade, a Piazza Maggiore. Uma praça extraordinária que representa o centro medieval da cidade e que concentra o mais importante conjunto de relíquias arquitetónicas de Bolonha, funcionando quase como um mostruário de monumentos, todos eles preciosos.

Desde logo o Duomo de Bolonha, a Cattedrale Metropolitana di San Pietro, com o seu campanário, uma das várias torres que encontramos na Bolonha atual. A Catedral é uma das principais igrejas católicas da cidade, mas, reconheço que, para quem está a percorrer Itália, mais catedral, menos catedral, já não adianta grande coisa e esta não será certamente a mais emblemática.

Encontramos ainda nesta piazza o Palazzo dei Notai e a imponente Basílica de São Petrônio, e do lado Poente desenvolve-se o bonito Palazzo dei Banchi, cheio de arcadas, algumas delas dão acesso à teia de ruelas, quase medievais, como a Via Clavature que liga ao Santuário de Santa Maria della Vita.

Alguns destes monumentos poderiam ter um papel dominante em qualquer praça de uma outra cidade menos monumental, mas, ali na Piazza Maggiore, passam quase despercebidos ao pé daqueles que são as joias da coroa da cidade de Bolonha e que merecem mais destaque, como é o caso do O Palazzo Comunale, o mais bonito de todos os que ali se encontram, sobretudo devido ao requinte da sua Torre dell'Orologio.
Este Palazzo Comunale é composto por uma coleção de edifícios que, ao longo dos séculos, se uniram gradualmente num núcleo adquirido pela Comuna durante o século XIII, e inclui a Biblioteca Salaborsa, a Comune di Bologna (a Câmara Municipal da cidade), e o próprio o Palazzo Comunale que em conjunto com o Palazzo d’Accursio dominam a Piazza Maggiore, envergando a Torre Torre d’Accursio ou Torre do Relógio, bem diferente das demais torres da cidade e com uma beleza e um requinte sublimes.

Mas a Piazza Maggiore salienta-se também pela existência de uma pequena praça contigua, do lado Norte, a Piazza del Nettuno, conhecida pela emblemática Fontana del Nettuno, uma das principais imagens de referência da cidade de Bolonha.

A fonte com a estátua do rei Nettuno foi construída no século XVI pelo escultor flamengo Giambologna e é suposto ser um símbolo do poder do Papa, que governou o mundo como Neptuno governou os mares.

Junto da estátua, existem ainda quatro pequenos anjos que representam os rios dos quatro continentes descobertos naquela época: Ganges, Nilo, Amazonas e Danúbio.

Carlos Prestes


Prato della Valle - Padova


Na nossa visita à cidade de Padova encontrámos uma praça algo incomum e que nos chamou a atenção, sendo que em Itália a maioria das piazzas têm tendência para ser muito semelhantes em todas as cidades, esta é bem diferente e digna de registo.

Chama-se Prato della Valle, é formada por uma área relvada com pequenas árvores e tem uma forma elíptica com 230m de comprimento. É contornada por um canal artificial em todo o seu perímetro, deixando no interior uma ilha, a chamada Isola Memmia. A praça é atravessada por dois caminhos retos formando entre si uma cruz perfeita, cada um deles com duas pontes sobre o canal.

Para além desta geometria quase perfeita, a praça salienta-se pela beleza do seu canal que é adornado por estátuas de mármore nas duas margens em toda a sua extensão. Existem atualmente 78 estátuas ao longo do canal, construídas por vários artistas entre 1775 e 1883, todas elas em mármore de Vicenza.

Além de ser um espaço monumental muito peculiar e interessante a praça é também apropriada para atividades de lazer e é frequentada por turistas e pelos habitantes da cidade, que a apelidam apenas por Il Prato. Sobretudo durante o Verão a praça fica cheia de visitantes que caminham, patinam ou se bronzeiam.

Na envolvente da praça encontramos uma das principais igrejas da cidade, a Basílica da Abbazia Santa Giustina, que surge perfeitamente enquadrada na paisagem juntamente com o canal e as suas estátuas.

A Abbazia de Santa Giustina pertence a uma comunidade de monges beneditinos e é uma das maiores igrejas católicas de Itália, com um comprimento de 118,5m e 82m de largura. O primeiro templo foi construído naquele local em torno do século V em memória à mártir Giustina (uma personagem virgem e imaculada, com uma história de fazer chorar as pedras da calçada). Ao longo do tempo a igreja foi sofrendo diversos danos, como o terremoto de 1117 e, em 1502, foi mesmo demolida para dar lugar ao atual edifício.

A fachada frontal, que deveria ter sido revestida a mármore, provavelmente branco, nunca foi completada, tendo sido apenas coberta com cerâmico avermelhado e áspero, sem a nobreza que a Basílica merecia. Mas, para compensar, na fachada oposta foram evoluindo alguns detalhes arquitetónicos preciosos, como a torre do sino ou as oito cúpulas em mármore, que dão ao edifício a aparência de um templo bizantino.

Carlos Prestes




O nosso Santo António de Padova


Ao longo do nosso percurso pelo Norte de Itália, a cerca de 40 km de Veneza, encontrámos a cidade de Padova (ou Pádua), da qual conhecia muito pouco, a não ser a curiosidade de ter um santo padroeiro que acumula esta cidade italiana com a nossa Lisboa... e a mim, que pouco percebo de santos, sempre me fez confusão esta ideia de haver um santo que, ora é duma cidade ora é de outra. Afinal, o nosso Santo António, santo casamenteiro com o seu menino ao colo, e que justifica anualmente uma noitada de sardinha assada e marchas populares, é de Lisboa, ou será de Pádua? Não sei se vou conseguir descobrir este enigma, mas vou tentar.

A Basílica di Sant'Antonio di Padova é a maior e mais imponente das diversas igrejas da cidade. Trata-se de um templo Franciscano e é conhecida como "il Santo" e, embora não seja a catedral da cidade, é aquele que recebe mais peregrinos de todo mundo.

A sua construção começou nos anos 30 do século XIII, pouco tempo após a morte de Santo António de Pádua, na altura apenas com uma única uma nave, mas logo depois foi sofrendo sucessivas ampliações que lhe deram uma maior dimensão e nobreza.

De acordo com o desejo expresso em testamento, Santo António foi enterrado na pequena igreja de Santa Maria Mater Domini, próxima do local da atual Basílica. Por isso, alguns anos mais tarde, esta igreja foi incorporada na atual basílica com o nome de Cappella della Madonna Mora (Capela da Madonna Escura), aumentando significativamente a dimensão do edifício.

A basílica é hoje um edifício gigantesco, mas sem um estilo arquitetónico bem definido, pelas várias intervenções que sofreu, embora os traços românicos e góticos sejam predominantes, revela sobretudo uma influência bizantina evidente devido às suas cúpulas.

No interior, o estilo ainda se torna mais complexo, com numerosos monumentos funerários e altares renascentistas e barrocos, decorados com esculturas e pinturas. Localizada no lado direito do santuário destaca-se a Capela da Arca, onde se encontra o túmulo de Santo António e onde muitos devotos deixam mensagens com as suas súplicas ao santo milagroso. A capela é uma imponente obra de arte com relevos em mármore que ilustram vários episódios da vida do santo, e o túmulo de Santo António é uma escultura de Tiziano Aspetti, um importante artista do Renascimento.
E no final da visita, à cidade e à basílica, faltava apenas resolver a dúvida que me assola sobre o Santo António ser de Lisboa ou de Pádua. E bastou alguma pesquisa para ficar a saber muito mais sobre este nosso santo casamenteiro... e partilho esse conhecimento com quem queira ler esta crónica.

Basicamente, Santo António é de Lisboa porque foi em Lisboa que nasceu e viveu no início da sua vida… e é de Pádua porque foi lá que viveu os últimos anos e foi lá que morreu, e os seus restos mortais ainda lá se encontram.

Esclarecida esta dualidade padroeira fica aqui uma breve biografia do santo: 

Nasceu em Lisboa em 1195 com o nome de batismo de Fernando de Bulhões e, mais tarde, foi ele mesmo que se nomeou como António. Viveu em Lisboa e em Coimbra onde estudou teologia. Em 1220, com 25 anos, ingressou na Ordem dos Franciscanos e partiu para Marrocos, como missionário e pregador, participando na conversão dos chamados infiéis. Já em Marrocos teve uma doença que o obrigou a regressar à Europa seguindo, no entanto, para Itália, e foi neste país que viveu os restantes anos da sua vida, ligado a ordens franciscanas. Os seus conhecimentos de teologia levaram-no a ser nomeado professor de teologia pelo próprio são Francisco de Assis, e assim lecionou em várias universidades, como as de Bolonha, de Toulouse, Montpellier e de Pádua, adquirindo renome como grande orador sacro. Após a morte de S. Francisco, em 1226, Santo António fixa-se em Pádua onde começa por fazer sermões dominicais, mas as suas palavras eram de tal modo acessíveis ao povo que passaram a atrair multidões para o ouvir, tornando-se num caso raro de popularidade.

Santo António viria a falecer em Pádua aos 36 anos, no dia 13 de junho de 1231 e, cerca de um ano após a sua morte, foi declarado santo pela igreja católica. Desde então, ao longo dos séculos, este santo, que é de Lisboa e é de Padova, tem sido objeto de grande devoção popular como santo casamenteiro e padroeiro dos pobres, e é ainda invocado para o encontro de objetos perdidos.

É formalmente o santo padroeiro da cidade de Padova, mas, ao contrário do que é corrente pensar, não é o padroeiro da cidade de Lisboa, que é São Vicente. De qualquer forma não deixa de ser o nosso santo popular e o dia da sua morte, o 13 de junho, é mesmo o feriado municipal da cidade. Em 1934, o Papa Pio XI proclamou-o como segundo padroeiro de Portugal, a par da Nossa Senhora da Conceição.

Foram-lhe dedicados dois templos oficiais, a Igreja de Santo António de Lisboa, em Alfama, e a Basílica di Sant'António di Pádova, cuja visita serviu de pretexto a esta história.

Terminámos assim esta visita à cidade de Padova, com direito a breves conhecimentos teológicos, sobre os quais jamais imaginei poder vir a escrever.

Carlos Prestes


sábado, 14 de abril de 2012

Il Ponte dei Sospiri


Saindo de Praça de São Marcos continuámos com destino às restantes ruas e canais do próprio bairro de San Marco e entrando também pelo bairro vizinho do Castello.

Logo um pouco depois da Piazza, seguindo pela Riva degli Schiavoni, cruzamos um canal chamado Rio de Palazzo ou Rio de Canonica, conhecido pela famosa ponte que o atravessa, il Ponte dei Sospiri.

Trata-se de uma belíssima ponte inspirada na arquitetura renascentista italiana, feita em calcário branco, com apenas duas pequenas janelas com grades de pedra trabalhada.

A ponte é conhecida em todo o mundo como um dos principais símbolos da cidade e tem um nome que nos faz suspirar, sempre associado a uma bela história romântica, com base na qual os casais apaixonados que passassem de gôndola por baixo desta ponte ficariam enamorados para sempre… muito bonito, mas a origem dos suspiros é outra e bem diferente.

Ora, na verdade, a ponte liga o Palazzo Ducale à Prigioni Nove, o primeiro edifício em todo o mundo a ser construído para ser utilizado como prisão… e é essa utilização da ponte, como acesso entre um tribunal e uma prisão, que justifica o nome que lhe foi atribuído.

O nome de Ponte dos Suspiros nada tem nada a ver com juras de amor eterno, mas sim porque, segundo a lenda, em tempos remotos, quando os prisioneiros saíam da sala do tribunal, suspiravam sempre que atravessavam a ponte e espreitavam para o canal pelas pequenas janelas, numa ocasião que seria a última oportunidade para verem o mundo exterior, antes de serem encerrados nas masmorras do edifício das Nove Prisões, local onde iriam cumprir penas de prisão perpétua.



Carlos Prestes

Piazza San Marco


Há várias formas de chegar à Praça de São Marcos, o principal polo de referência da cidade, e desta vez fizemos a entrada por uma das arcadas, contemplando, ao fundo, a imagem da Basílica, ladeada pelo Palácio Ducal e pelo seu Campanário, à direita e, do lado esquerdo, pelo curioso edifício da Torre do Relógio.

Este edifício, que acolhe o relógio mais conhecido da cidade, é uma obra renascentista composta por uma torre central, construída no final do séc. XV. A face do relógio é de ouro e esmalte azul e marca a hora, o dia, as fases da lua e do zodíaco. O relógio é também equipado com um mecanismo de caixa de música que toca em cada hora enquanto se abrem os painéis laterais e deixam passar um carrossel de estátuas de madeira. O relógio é adornado pela estátua do Leão de São Marcos, um símbolo veneziano e, no seu topo, encontra-se o terraço dos mouros, com duas estátuas de bronze de dois homens, os Mouros, que marcam as horas do meio-dia e da meia-noite, batendo com os seus martelos no grande sino que domina o terraço.

A Torre do Relógio é, sem dúvida, um monumento raro e muito especial, mas, na Piazza San Marco, existem outros monumentos mais relevantes, desde logo, porque existe uma grandiosa igreja com o mesmo nome da praça, a Basílica di San Marco.

Trata-se da maior e mais famosa das igrejas da cidade e um dos melhores exemplos da arquitetura bizantina fora da Turquia. A igreja desenvolve-se em planta numa cruz grega, baseada nos exemplos das Basílicas de Santa Sofia e dos Apóstolos, ambas da antiga Constantinopla, atual Istambul.

A Basílica é a sede da arquidiocese católica romana de Veneza e fica localizada bem ao lado do Palácio dos Doges, ou Palácio Ducale, que é o mais importante dos palazzos venezianos e uma obra-prima do gótico veneziano. Estes dois monumentos encontram-se praticamente integrados entre si, parecendo que ambos fazem parte de um único edifício. O Palácio Ducale era o edifício da sede do Doge e dos tribunais da cidade, mas, quando Veneza foi anexada ao reino de Itália, o edifício transformou-se num museu, que se mantém até aos dias de hoje, sendo mesmo um dos mais importantes museus da cidade, contendo obras dos grandes mestres venezianos, como Tintoretto, Tiziano, Bassano ou Veronese.

O interior da basílica é composto por três naves longitudinais e três transversais, de onde emergem cinco cúpulas, que só conseguimos ver completamente, quando observamos a partir do alto do Campanário, localizado num canto da praça, perto da entrada da basílica.

A torre do Campanário, Il Campanile di San Marco, que atinge 98m de altura, é quadrangular, com uma largura de 12m, e é revestida a tijolo, idêntica aos vários campanários da cidade, num estilo marcante da arquitetura veneziana. Sobre o topo da torre assenta o campanário propriamente dito, com arcos em pedra, onde estão alojados cinco sinos, e a torre é ainda coroada por uma agulha piramidal, no extremo da qual se encontra um cata-vento dourado com a figura do Arcanjo Gabriel.

E é assim, com a combinação deste conjunto monumental preciosíssimo, que se forma uma das praças mais distintas e magníficas de todo o mundo… mas também, talvez seja aquela que concentra sempre uma maior quantidade de visitantes, o que torna quase sempre este local numa espécie de parque de diversões para turistas, o que ofusca muito da sua extraordinária beleza (com raras exceções, como na nossa viagem em dezembro de 2000, ver publicação: A Acqua-Alta veneziana).


Carlos Prestes

Il Vaporetto


O percurso pedonal pelos diversos bairros da cidade pode consumir um dia completo, mas claro, será em função do ritmo que seja imposto. De qualquer forma, onde e quando quisermos interromper a caminhada, voltando ao hotel, não será necessariamente obrigatório percorrer a pé todo o caminho de volta, o que poderá ser penoso.

Mas para esse regresso ao hotel, ou à estação ferroviária, e a posterior volta para retomar o percurso, podemos recorrer a um dos muitos Vaporettos que percorrem o Grande Canal. O Vaporetto é uma embarcação típica da cidade de Veneza e é também o principal meio de transporte entre os vários bairros, através do Grande Canal e no acesso às várias ilhas que formam a cidade. Existem em Veneza 19 linhas regulares destas embarcações.

Os preços para viajarmos nestes barcos não são baratos, sobretudo se for uma família grande, o que faz com que a alternativa de fazermos a volta de regresso caminhando seja bastante razoável, até porque caminhar em Veneza é sempre um enorme prazer. De qualquer forma, nem que seja pelo menos uma vez, recomendo um trajeto neste tipo de barco tão característico da cidade de Veneza, que foi tantas vezes imortalizado no cinema, nos muitos filmes que foram rodados nesta cidade fabulosa.

A história dos Vaporettos acompanha a história mais recente da própria cidade, sendo que, as antigas embarcações que executavam este serviço funcionavam mesmo a vapor… o que serviu de inspiração para que os barcos atuais, embora com motores diesel, sejam chamados de Vaporettos.



Il Dorsoduro


No bairro de Dorsoduro, localizado numa pequena península à frente da zona de São Marcos, surge um dos recantos imperdíveis da cidade de Veneza. Atingimos essa zona da cidade atravessando o Grande Canal pela Ponte dell’Accademia e deliciamo-nos com as imagens que nos são oferecidas naquela pequena língua de terra, rasgada por bonitos canais, e que termina numa extremidade chamada de Punta de la Dogana (ou Ponta da Alfândega). É daqui que a paisagem sobre a Piazza di San Marco é mais marcante o que faz deste local um ponto de passagem imprescindível.

Mas o interesse deste bairro não se confina às belas vistas sobre San Marco, todo o bairro é bastante bonito e mais desafogado, por não atrair os turistas de uma forma tão maciça, como acontece noutras zonas. E é neste mesmo local, em plena Punta de la Dogana, que se ergue um monumento que é também um ex-líbris e uma das imagens de marca da cidade, a grandiosa Basílica de Santa Maria della Salute.

Com a sua cúpula magnífica, a Basílica de Santa Maria della Salute domina a paisagem de toda aquela zona desde o século XVII, quando foi construída. A sua origem está associada à pior fase da história de Veneza, quando os seus habitantes foram dizimados devia à peste negra, a Basílica surgiu como promessa do patriarca e do Doge (governante) da cidade, de que iriam erguer uma igreja e dedicá-la à Virgem Santíssima, quando a cidade fosse declarada livre daquela enfermidade. A igreja serviria assim para perpetuar a memória de gratidão pública à Virgem por esse benefício.

Quando a epidemia da peste negra terminou tinham morrido 80.000 venezianos, entre os quais morreram também o Doge e o patriarca. Ainda assim, em 1631 começou a ser construída na Punta della Dogana a primeira edificação que, após diversas alterações, ampliações e restauros, corresponde à Basília que hoje lá encontramos

A Basílica é de uma enorme beleza arquitetónica, sobretudo pelo enquadramento com a sua envolvente, o que não é totalmente percetível quando nos encontramos junto aos seus portões de acesso, é sobretudo a partir do bairro de São Marcos que a Basílica se torna visível em toda a sua dimensão e é daí que surge mais bonita e majestosa e, claramente, uma das mais belas igrejas de toda a cidade.