domingo, 15 de abril de 2012

O nosso Santo António de Padova


Ao longo do nosso percurso pelo Norte de Itália, a cerca de 40 km de Veneza, encontrámos a cidade de Padova (ou Pádua), da qual conhecia muito pouco, a não ser a curiosidade de ter um santo padroeiro que acumula esta cidade italiana com a nossa Lisboa... e a mim, que pouco percebo de santos, sempre me fez confusão esta ideia de haver um santo que, ora é duma cidade ora é de outra. Afinal, o nosso Santo António, santo casamenteiro com o seu menino ao colo, e que justifica anualmente uma noitada de sardinha assada e marchas populares, é de Lisboa, ou será de Pádua? Não sei se vou conseguir descobrir este enigma, mas vou tentar.

A Basílica di Sant'Antonio di Padova é a maior e mais imponente das diversas igrejas da cidade. Trata-se de um templo Franciscano e é conhecida como "il Santo" e, embora não seja a catedral da cidade, é aquele que recebe mais peregrinos de todo mundo.

A sua construção começou nos anos 30 do século XIII, pouco tempo após a morte de Santo António de Pádua, na altura apenas com uma única uma nave, mas logo depois foi sofrendo sucessivas ampliações que lhe deram uma maior dimensão e nobreza.

De acordo com o desejo expresso em testamento, Santo António foi enterrado na pequena igreja de Santa Maria Mater Domini, próxima do local da atual Basílica. Por isso, alguns anos mais tarde, esta igreja foi incorporada na atual basílica com o nome de Cappella della Madonna Mora (Capela da Madonna Escura), aumentando significativamente a dimensão do edifício.

A basílica é hoje um edifício gigantesco, mas sem um estilo arquitetónico bem definido, pelas várias intervenções que sofreu, embora os traços românicos e góticos sejam predominantes, revela sobretudo uma influência bizantina evidente devido às suas cúpulas.

No interior, o estilo ainda se torna mais complexo, com numerosos monumentos funerários e altares renascentistas e barrocos, decorados com esculturas e pinturas. Localizada no lado direito do santuário destaca-se a Capela da Arca, onde se encontra o túmulo de Santo António e onde muitos devotos deixam mensagens com as suas súplicas ao santo milagroso. A capela é uma imponente obra de arte com relevos em mármore que ilustram vários episódios da vida do santo, e o túmulo de Santo António é uma escultura de Tiziano Aspetti, um importante artista do Renascimento.
E no final da visita, à cidade e à basílica, faltava apenas resolver a dúvida que me assola sobre o Santo António ser de Lisboa ou de Pádua. E bastou alguma pesquisa para ficar a saber muito mais sobre este nosso santo casamenteiro... e partilho esse conhecimento com quem queira ler esta crónica.

Basicamente, Santo António é de Lisboa porque foi em Lisboa que nasceu e viveu no início da sua vida… e é de Pádua porque foi lá que viveu os últimos anos e foi lá que morreu, e os seus restos mortais ainda lá se encontram.

Esclarecida esta dualidade padroeira fica aqui uma breve biografia do santo: 

Nasceu em Lisboa em 1195 com o nome de batismo de Fernando de Bulhões e, mais tarde, foi ele mesmo que se nomeou como António. Viveu em Lisboa e em Coimbra onde estudou teologia. Em 1220, com 25 anos, ingressou na Ordem dos Franciscanos e partiu para Marrocos, como missionário e pregador, participando na conversão dos chamados infiéis. Já em Marrocos teve uma doença que o obrigou a regressar à Europa seguindo, no entanto, para Itália, e foi neste país que viveu os restantes anos da sua vida, ligado a ordens franciscanas. Os seus conhecimentos de teologia levaram-no a ser nomeado professor de teologia pelo próprio são Francisco de Assis, e assim lecionou em várias universidades, como as de Bolonha, de Toulouse, Montpellier e de Pádua, adquirindo renome como grande orador sacro. Após a morte de S. Francisco, em 1226, Santo António fixa-se em Pádua onde começa por fazer sermões dominicais, mas as suas palavras eram de tal modo acessíveis ao povo que passaram a atrair multidões para o ouvir, tornando-se num caso raro de popularidade.

Santo António viria a falecer em Pádua aos 36 anos, no dia 13 de junho de 1231 e, cerca de um ano após a sua morte, foi declarado santo pela igreja católica. Desde então, ao longo dos séculos, este santo, que é de Lisboa e é de Padova, tem sido objeto de grande devoção popular como santo casamenteiro e padroeiro dos pobres, e é ainda invocado para o encontro de objetos perdidos.

É formalmente o santo padroeiro da cidade de Padova, mas, ao contrário do que é corrente pensar, não é o padroeiro da cidade de Lisboa, que é São Vicente. De qualquer forma não deixa de ser o nosso santo popular e o dia da sua morte, o 13 de junho, é mesmo o feriado municipal da cidade. Em 1934, o Papa Pio XI proclamou-o como segundo padroeiro de Portugal, a par da Nossa Senhora da Conceição.

Foram-lhe dedicados dois templos oficiais, a Igreja de Santo António de Lisboa, em Alfama, e a Basílica di Sant'António di Pádova, cuja visita serviu de pretexto a esta história.

Terminámos assim esta visita à cidade de Padova, com direito a breves conhecimentos teológicos, sobre os quais jamais imaginei poder vir a escrever.

Carlos Prestes


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